Crítica | ‘Estado Zero’ é carregada de crítica social e atuações poderosas

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A crise imigratória que teve seu ápice em 2018 na Europa está começando agora a se tornar objeto de estudo de roteiros, como podemos ver em ‘Estado Zero’ (Stateless), nova minissérie da Netflix baseada em fatos, que mergulha no assunto e desenvolve uma trama carregada de crítica social pontual, enquanto conta a história de personagens selecionados para exemplificar cada segmento do contexto. Os múltiplos pontos de vista e o vai e vem de um núcleo para o outro costura uma narrativa intrigante, cujo roteiro ágil escolhe dar mais atenção para instigar a curiosidade do público, para saber como cada núcleo chegou onde está, do que trabalha a sensibilidade do assunto. Ainda que parte do objetivo seja mostrar os efeitos da crise e como imigrantes são aprisionados tanto dentro quanto fora de seus países, a ausência de emoção e delicadeza faz diferença.

Como o título original indica, a história é pautada por personagens “sem estado”, que não se sentem pertencentes à país nenhum e que precisam apenas sobreviver enquanto buscam asilo em outros lugares mais desenvolvidos, como a Austrália, onde a trama é situada. Nesse contexto, somos apresentados à protagonista Sofie (vivida pela atriz Yvonne Strahovski), que é uma cidadã australiana, porém, que fica presa em um dos centros de imigrantes do país por conta de uma série de erros (e até mesmo o intuito dela) leva a crer que sua origem é alemã. Além dela, a jornada segue outros personagens interessantes, como o doce Cam (Jai Courtney), que acaba sendo transformado e corrompido pelo peso do trabalho que exerce com os imigrantes ilegais; e também o libanês Ameer (Fayssal Bazzi), que foge de seu país para conseguir salvar sua família dos crimes de guerra.

Talvez o maior destaque de todos, além do intuito da trama de emocionar, seja a forma com o roteiro conduz a jornada de Sofie e como Yvonne Strahovski (The Handmaids Tale) rouba a cena, inclusive, de outros fenômenos, como a atriz Cate Blanchett (Thor: Ragnarok), que tem um papel menor na história mas que deixa evidente sua energia poderosa (ela também é produtora!). Yvonne é, na falta de palavras, uma força da natureza e sua performance está fantástica. Do começo ou fim, ela carrega a história e passa por nuances de loucura muito interessantes. Porém, ainda que todos os núcleos tenham momentos expressivos, a jornada de Sofie acaba roubando mais atenção e, infelizmente, tendo o desfecho menos trabalhado e envolvente dos demais. O ritmo lento do desenvolvimento ganha energia no quarto episódio, talvez o melhor do ciclo, mas volta a ficar cansativo nos demais. Essa falta de ganchos e intrigas fortes pode afastar o espectador por alguns momentos.

Outra qualidade da produção, além da relevância do tema, é parte técnica. A direção de fotografia quente expressa o calor sufocante da Austrália e a montagem recorta as narrativas com bastante maestria, equilibrando todos os núcleos até o desfecho. Fora isso, talvez tenha ficado faltando a presença de uma trilha sonora marcante, que pudesse direcionar a emoção do público com mais ênfase e que tem muita necessidade de existir em obras como essa. Apesar de haver performances musicais, que dá a trama nuances de fantasia e ilusão, a parte sonora realmente fica devendo.

Através disso, ‘Estado Zero’ conquista pela relevância do assunto tratado, mas falta sensibilidade para conduzir a emoção do público. Ainda assim, a minissérie da Netflix está carregada de crítica social e atuações poderosas, em especial, de Yvonne Strahovski, que tira o fôlego com tanto carisma e profundidade. Apesar de ser tecnicamente impecável, falta trilha sonora e o ritmo se perde em alguns momentos, com isso, o maior destaque fica mesmo para o excelente elenco e a maneira como suas narrativas tristes são contadas.

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