Crítica | ‘The Last Days of American Crime’ é genérico e não explora seu potencial

Quando assistimos filmes como ‘The Last Days of American Crime’, da Netflix, a sensação predominante é de que Hollywood anda realmente sem criatividade. Mas isso, por si só, não é um problema tão grande, já que o cinema se recicla a todo tempo. O que é mais desanimador é saber que não é apenas a falta de engenhosidade que afeta os filmes de gênero, em especial, os de ação e terror, mas também a tentativa falha e até mesmo vergonhosa de tentar replicar conceitos já utilizados em filmes de maior qualidade artística. Depois que o gênero de ação moderno conheceu a jornada de ‘John Wick’ e suas cenas sofisticadas, o nível está alto de ser alcançado e ser encaixado no genérico se tornou uma tendência em ascensão. Por essa razão que o longa de ação, baseado na graphic novel de mesmo nome, dos autores Rick Remender e Greg Tocchini, se mantém na zona de conforto e não explora todo o seu potencial.

A pegada violenta e distópica não é novidade, ainda que sua premissa seja uma união imperfeita de ‘Uma Noite de Crime’ com ‘John Wick’, a trama segue a estrutura de acrescentar estilo demais para pouca entrega e, desde os primeiros minutos, mostra seu protagonista bad ass buscando vingança de seu irmão que foi brutalmente assassinado, porém, no contexto de mundo em que vive, um sinal digital será ativado em poucos dias, visando extinguir a criminalidade dos Estados Unidos. Através desse sinal, criminosos terão suas mentes afetadas e apenas “pessoas de bem” deverão sobreviver. É uma corrida contra o tempo instigante e que, se não tivesse um enorme problema de ritmo, teria sido interessante ver o desenvolvimento dessa premissa. Infelizmente, após 30 minutos de filme, a trama caminha rumo ao fundo do poço e deixa esse começo criativo de lado, para retomá-lo apenas no final.

Nem precisa dizer que há tantos clichês do gênero, que quase não sobra espaço para novidades ou ousadias. É o protagonista durão sem carisma, a mocinha sexy estereotipada pela direção, o vilão megalomaníaco e o apocalipse genérico de sempre. Ainda que esses aspectos sejam recorrentes do gênero e que entregue relativamente tudo que o público gosta, é exaustivo ver que nem ao menos tentar sair dessa caixinha, o roteiro tenta. A direção de Olivier Megaton não é lá grandes coisas. Vindo de um diretor que repete a história três vezes seguidas com a franquia ‘Busca Implacável’, não é de se surpreender com sua falta de vontade de sair da zona de conforto.

O diretor se excede nos zoons e closes, fora que as sequências de tiroteio e luta são mais do mesmo. Outro problema enorme é o “protagonista blindado”, já que o personagem parece nunca ser atingido por nada que está acontecendo a sua volta (como uma cena de incêndio que é vergonhosa) e, quando toma tiros, o roteiro ignora que possa morrer. Através desse fato exaustivo, com o passar do tempo, percebemos que ele sobreviverá à tudo e isso afasta totalmente a suspensão da descrença, mesmo que seu desfecho vá contra isso, a jornada até lá é caótica.

O astro Édgar Ramírez (Bright) vive o sem sal Graham Bricke, um protagonista fraco, sem ânimo e sem força para ser o guia para a história. O ator não entrega nenhuma profundidade. No entanto, Anna Brewster (Star Wars: O Despertar da Força) surpreende em dois aspectos: por conseguir se desvencilhar da imagem “gostosona mortal” que o roteiro a coloca e por entregar algumas nuances de personalidade que condizem com a personagem. Ainda que fraca, é de longe a melhor coisa do filme. Já o romance sem química entre os dois, é brega e forçado. Fora isso, o ator Michael Pitt (Os Sonhadores) vive a outra ponta desse triângulo sem ânimo. Sua performance é exagerada e típica dos playboys desse tipo de obra, o que vai de encontro com a falta de personalidade do roteiro. Se ainda está convencido de que a jornada vale a pena, a duração é longa. São duas horas e trinta minutos de uma história que não caminha, que dá voltas e mais voltas para conectar o começo com o desfecho. O clímax é a união de toda a narrativa genérica até então. Tiros, perseguição, explosões e muita falta de noção da direção em entregar algo minimamente surpreendente.

Dessa forma, ‘The Last Days of American Crime’ se mantém na exaustiva zona de conforto e perde a oportunidade de explorar seu potencial por ter um roteiro adaptado tão genérico e sem ânimo de inovar, que nem a diversão através da ação consegue sustentar. Aquele típico filme de ação que é uma batida de liquidificador de inúmeros outros, porém, o resultado, infelizmente, é um suco amargo de clichês, regado de muita breguice e pouca diversão. A prateleira de genéricos da Netflix só têm aumentado esse ano.

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