Crítica | A Vastidão da Noite – A história mais arrepiante de OVNI desde ‘Sinais’

O cinema de ficção científica, especialmente influenciado por Steven Spielberg e J. J. Abrams, tem mergulhado em histórias sobre o desconhecido, porém, o tom de fantasia predomina, diferente de alguns filmes como ‘Sinais’, do M. Night Shyamalan, cuja proposta é provocar terror através da sensação de estarmos sendo observados e controlados por Seres além da nossa compreensão. Essas obras são, claro, um reflexo da Corrida Espacial, que causa influência na cultura pop desde a década de 60. Essa deliciosa união do fantástico com o medo e a paranoia faz nascer ‘A Vastidão da Noite’ (The Vast of Night), novo filme Original do Amazon Prime Video, que narra uma sublime e arrepiante história de OVNI em uma pequena cidade chamada Cayuga, no Novo México. No melhor estilo ‘Stranger Things’ e ‘Super 8’, mostra dois jovens adolescentes na investigação dos mistérios sombrios do lugar, durante uma noite que era para ser comum.

A narrativa poética, comandada pelo diretor novato Andrew Patterson, é emoldurada como um episódio de uma série de televisão antológica, no estilo ‘The Twilight Zone’, por conta do seu clima de suspense. Além disso, se apodera da estética nostálgica da década de 1950 com bastante vigor, desde seus primeiros minutos, ao adentrar na TV e mergulhar na trama narrada, já mostra que sua premissa será a ficção científica raiz e filmes como ‘Contatos Imediatos do Terceiro Grau’ serão parte do imaginário para a construção da atmosfera sombria e misteriosa que ganha força conforme a história avança. Porém, o começo, recheado de longos diálogos, pode ser uma barreira para o espectador que se cansa facilmente. Na verdade, esse início enérgico serve para aprofundar os personagens e situar a trama na cidade onde todos se conhecem. Até que o primeiro mistério surge, através de um ouvinte da rádio, e o filme toma um novo rumo.

A ambientação de estúdio de rádio é perfeito para a disseminação de mistérios e teorias, que farão os personagens partir para uma investigação mais aprofundada após receberem relatos de que há algo no céu e um som estranho, diferente de tudo já visto, começa a ser captado pelas antenas do lugar. Semelhante à essa proposta, há uma série animada argentina chamada ‘A Frequência Kirlian’, que mostra como esse ambiente pode funcionar e provocar pavor quando bem trabalhado. E é exatamente isso que o roteiro faz. Apesar de ser direto e claro quanto aos seus mistérios, os longos planos de diálogo, sem cortes pela direção, faz o filme se encaixar no formato radialista da premissa e há momentos, inclusive, que apenas contemplamos uma história de terror sem interferências. Dessa forma, Patterson escolhe filmar abaixo da cintura dos personagens, quebra diversas regras estabelecidas pelo cinema e faz um formato muito singular para expressar sua história. Aliás, os planos sequência são impecáveis, especialmente um que viaja entre as rádios e o estádio da cidade, onde acontece um jogo de basquete. É realmente surpreendente e brilhantemente realizado. Porém, em diversas cenas a fotografia é escura demais, algo que atrapalha, em partes, a imersão.

O elenco, por sua vez, formado por atores e atrizes desconhecidos, ajuda nessa construção de expectativa de que algo muito sério está para acontecer. Tanto Jake Horowitz quanto Sierra McCormick seguem performances intensas e que se tornam cada vez mais profundas conforme a trama expõe seus medos e pavores quando descobrem que algo está acontecendo na cidade. Da metade para o final, o roteiro se fortalece do terror e cria na cabeça do espectador imagens bizarras de encontros extraterrestres narrados por algumas pessoas do lugar. Há uma dessas histórias, talvez a mais importante para evidenciar esse viés de horror, em que uma senhora conta uma história arrepiante que certamente vai ficar na cabeça do espectador por algum tempo.  

Com isso, ‘A Vastidão da Noite’ abraça um formato “podcast do horror” e se torna um conto horripilante e misterioso, que instiga a imaginação do espectador através de uma mistura sublime de ficção científica com terror. A direção quebra regras do cinema para desenvolver uma narrativa enérgica e intensa, que culmina em um desfecho cercado de histórias sinistras, que certamente vão permanecer na cabeça quando for dormir. Além disso, consegue ser singular, apesar de fazer tantas homenagens a obras clássicas como ‘The Twilight Zone’ e ‘Contatos Imediatos do Terceiro Grau’. Possivelmente, o filme sobre extraterrestres mais aterrador, criativo e bem realizado desde ‘Sinais’.

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