Crítica | CHiPs: O Filme – Humor constrangedor para disfarçar roteiro ultrapassado

Quando você pensa que já viu todos os níveis que uma comédia pode descer pela falta total de criatividade, eis que chega ‘CHiPS: O Filme’ e prova que o subsolo tem mais andares. Recém chegado na Netflix, o longa trata-se de uma adaptação para o cinema do seriado com policiais motociclistas que fez grande sucesso na televisão nos anos 1970 e, além de resgatar a mesma vibe da época, ainda parece ter se perdido no passado, já que o grande número de piadas ultrapassadas e um humor extremamente besta fazem parte do roteiro, se é que se pode chamar de roteiro o emaranhado de presepadas e confusões que a dupla de policiais passa ao longo da história. Sem dúvida, a falta entusiasmo de Hollywood foi longe dessa vez.

Não que resgatar seriados de outras décadas seja uma má ideia. ‘Anjos da Lei’, por exemplo, está aí para provar que é possível fazer uma boa adaptação, atualizada, sem perder a essência, no entanto, não basta apenas trazer uma trama insignificante para os dias de hoje e enfiar uma enxurrada de piadas estúpidas para distrair a falta de criatividade do roteirista, é necessário também desenvolver uma premissa que faça sentido, que seja divertida dentro da proposta e que tenha algum conteúdo que seja, elementos esses que não existem nessa comédia dirigida por Dax Shepard (que também atua e escreve o filme). Absolutamente nada funciona, desde a dinâmica rasa entre os protagonistas, que nem engraçada é, pois um está um tom acima do outro, até as cenas de ação picotadas e mal dirigidas.

Mas o “macho movie” vai muito além e não se contenta apenas em ser constrangedor na trama sem pé nem cabeça, já que flerta deliciosamente com temas cujo próprio roteirista não sabe ao certo como tratar. Faz humor com a homofobia acreditando que está divertindo, põe as personagens femininas como instrumento de desejo, as objetifica e expõe, além do necessário, seus corpos apenas para o agrado dos homens, com a masculinidade frágil, que dominam a trama, além disso, justifica seu machismo como “feito para um público alvo”, que certamente irá consumir o conteúdo sem se queixar. Mas, Ok, saindo das entranhas do roteiro arcaico, ao menos no ritmo frenético e na montagem a comédia estabelece uma boa conexão.

Quando as inúmeras cenas de ação tomam conta, já é tarde e o tédio está estabelecido. Nesse ponto da trama, já não importa mais quem está atrás de quem, afinal, a grande quantidade de coadjuvantes só atrapalha o desenvolvimento dos poucos personagens que possuem alguma importância, como o protagonista, vivido pelo ator Michael Peña (Homem-Formiga), que, além de não ser absolutamente nada engraçado nesse filme, ainda possui uma personalidade furiosa sem o menor sentido para tal, algo que impede sua conexão com o bobão e ingênuo do seu parceiro, vivido pelo ator Dax Shepard (Bless This Mess). A ausência de humor que poderia ter sido extraído dessa dinâmica entre os dois, no melhor estilo dupla da pesada, é um desperdício colossal e mais um sinal de que o roteirista não faz a menor ideia para onde deseja ir com o longa.

Com isso, ‘CHiPs: O Filme’ é doloroso de tão constrangedor, brega e ultrapassado, além de absolutamente nada nessa comédia de ação ser, de fato, engraçado. É um tipo de humor “quinta série”, carregado de piadas estúpidas, que preenchem o roteiro adaptado da famosa série de TV dos anos 70 como se a história ainda estivesse presa nas presepadas de quase 50 anos atrás. Não serve para homenagem, não agrega novidade alguma e só reforça o quão machista era o conteúdo televisivo do século passado. Mas se o seu propósito é ver cenas de ação genéricas e desligar qualquer pensamento crítico, esse filme na Netflix pode ser uma boa escolha para você se distrair, só não tem como recuperar o tempo perdido depois.

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