Crítica | ‘Te Pego na Saída’ tenta provocar risos com um humor monótono

O grande problema de escrever um filme de comédia é que o trem pode sair dos trilhos muito depressa e a piada, ao invés de decolar, apenas se perde pelo caminho. Com toda uma desculpa de ser escapista, o gênero acaba renunciando a qualquer criatividade em prol de apenas fazer o espectador rir das situações mais presepadas possíveis, sendo que poderia ser muito mais, poderia flertar com uma boa e significativa história, mas por diversas razões e decisões erradas decide ser simplesmente… simples. E é dessa proposta anêmica que nasce a trama de ‘Te Pego na Saída’ (Fist Fight), que está fazendo sucesso da Netflix. Um filme tão superficial em tudo que deseja passar, que poderia ter sido um curta de comédia pessimista sobre o sistema educacional americano.

Enquanto os roteiristas acreditavam que inverter a situação comum e colocar um grupo de professores para sofrer bullying no lugar dos alunos de uma escola, especialmente vindo dos próprios jovens, que decidem transformar o ambiente escolar em um verdadeiro inferno, a sensação é de que a crítica social meio que se perde pelo caminho e só sobra mesmo o humor escrachado. Humor esse que acerta sim em algumas piadas e no tom “bate e volta” do elenco, afinal, tudo na trama é feito absurdamente para fazer o espectador rir e, com toda energia concentrada em apenas isso, é esperado que ao menos faça. A culpa de a comédia funcionar vem do ator Charlie Day (Se Beber Não Case!), que é naturalmente hilário, com sua voz fina e sua performance corporal. Inclusive, conforme a trama avança e seu personagem começa a ficar irritado com tudo e todos ao seu redor, melhor ele fica e mais cômica é a sua atuação. Ice Cube (Straight Outta Compton) por sua vez vive um professor durão, não tão engraçado, mas a dinâmica entre os dois funciona muito bem.

Outra incoerência, que fica realmente entranha e confusa, é a passagem de tempo através da montagem. Todos os eventos acontecem em apenas um dia e essa dilatação de tempo é simplesmente bizarra. As horas parecem não existir, ou apenas existem quando a história precisa que o tempo seja avançado. De qualquer forma, não convence. Assim como a direção de Richie Keen (It’s Always Sunny in Philadelphia), que se mantém no nível e não aproveita os ápices dramáticos, mas também não desperdiça o uso de slow motion e de outros clichês do gênero. Aliás, haja uso exagerado de clichês na tentativa de deixar o humor mais fluído. Não faltam piadas com drogas, sexo, palavrões e bullying, além de alguns exageros desproporcionais para mostrar que a escola está de pernas para o ar, como um cavalo que corre solto pelos corredores e o carro do diretor, pintado de rosa e colocado no meio da entrada como um troféu. Ainda que essas fanfarronices possam ser aceitas dentro da trama proposta, haja suspensão da descrença.

Após toda uma longa preparação para a tal luta do título, entre os professores, o clímax pelo menos é mais ousado e enérgico. A cena de pancadaria é boa, poderia ter sido mais divertida e se estendido por mais tempo, mas dos males, o menor. Essa audácia poderia ter sido utilizada em outros momentos também, mas o roteiro estava preocupado demais em replicar fórmulas batidas e mostrar uma representação de uma geração de jovens sem nuances, sem dilemas e que só cumprem o check list de serem “aborrecidos” com a escola e com a vida. Apesar de se passar em um ambiente escolar, não há ninguém do elenco jovem que se destaca positivamente, mais um desperdício de oportunidade.

Além disso, como já citada, a crítica social sobre o sistema educacional e os desafios que os professores precisam vivenciar dia após dia, se desintegram e, ainda que a intenção seja boa no fim das contas e que o plano da tal luta seja para chamar a atenção para esse sistema caótico, o desfecho soa mais como uma justificativa esfarrapada de entregar uma mensagem positiva de algo que não se manteve positivo em momento algum.

Através disso, ‘Te Pego na Saída’ desperdiça sua premissa criativa e sua crítica social afiada para criar uma comédia mais do mesmo, superficial e surtada. Uma verdadeira aula de como pegar uma boa proposta e jogar fora, principalmente pelo fato de os erros de gravação nos créditos finais serem muito mais divertidos do que o próprio filme em si. Mas, ainda que tenha falhas na trama, exageros e seja genérico, o produto final não é um total desastre, ainda que lute (literalmente!) para fazer provocar riso as custas de um humor monótono.

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