Crítica | ‘Durante a Tormenta’ é fantástico, satisfatório e criativo

Mexer com o tempo exige eficiência e atenção aos detalhes. Poucas obras sabem brincar com as possibilidades com criatividade e, acima de tudo, fazer o espectador embarcar na proposta maluca, como ‘Durante a Tormenta’ (Durante la Tormenta), suspense espanhol da Netflix, consegue. Com a premissa da clássica história do chamado “efeito borboleta”, em que uma mínima mudança que seja, feita no passado, altera drasticamente o futuro, a trama intrigante cria uma espécie de universo paralelo, repleto de reviravoltas e mistérios. Mas convenhamos que essa ideia já foi feita à exaustão anteriormente, até mesmo um episódio da série ‘Amazing Stories’ parte do mesmo princípio, mas por qual razão então funciona aqui? Simples e prático: pela engenhosidade acima da média.  

Assim como em Um Contratempo, outro ótimo suspense, o diretor Oriol Paulo sabe da fórmula básica e busca quebrar algumas expectativas, seja ao entregar as respostas à conta gotas ou mesmo pela atmosfera mística, criada desde seu primeiro plano. O clima de chuva, com trovões e nuvens escuras, é o presságio de que algo intenso vai acontecer e esse ritmo se intensifica conforme a protagonista, Vera Roy (Adriana Ugarte), começa a conectar as histórias e mesclar o passado com o presente, ao descobrir a possibilidade de se comunicar com um menino que havia morrido 25 anos atrás. Na tentativa de salvá-lo do destino trágico, ela altera por completa sua realidade atual e, como podemos imaginar, precisa encontrar uma maneira de ter sua vida de volta.

O desenvolvimento intenso do suspense é o ponto forte do filme. Diferente de outros, como ‘Efeito Borboleta’, ‘O Som do Trovão’ e até mesmo ‘A Morte te Dá Parabéns’, que focam no terror ou mesmo em como será a realidade alterada, a narrativa é enriquecida com outras subtramas mais simples, que colidem com a história central, tornando a trama elaborada e criativa, do começo ao fim, ainda que, infelizmente, haja sim uma barriga pelo caminho, que dilata a história para render mais e acaba se tornando relativamente confusa e densa. Do segundo ato até o desfecho, o ritmo desacelera e a história, inteligente, se estende demais e começa a se repetir e desanimar, algo que retoma força quando as linhas temporais se colidem no final, porém, até lá, talvez o cansaço faça alguns espectadores desistir um pouco antes.

Outra artimanha da trama é exatamente trabalhar diversos gêneros dentro de um. Além da ficção científica e do suspense, há momentos de romance e de terror, assim como ação e drama. Aliás, a parte dramática desenvolve bem seus personagens, especialmente a protagonista. Adriana Ugarte está excelente no papel, seu olhar passa confusão e emoção ao mesmo tempo. Álvaro Morte (La Casa de Papel) também rouba a cena, sendo carismático como de costume. Outro destaque é Javier Gutiérrez (A Casa), que vive um personagem frio, medonho e intrigante. Fora o elenco, a produção, como um todo, está boa. A direção de fotografia cria ambientes sombrios, a trilha sonora densa auxilia na atmosfera de mistério e a montagem, ainda que arraste algumas cenas sem necessidade, alterna de forma interessante entre o passado e o presente.

Com isso, certamente o sucesso de ‘Durante a Tormenta’ existe por ser um filme da Netflix acima da média, engenhoso e perfeitamente trabalhado no suspense, como poucos atuais. Não é apenas uma história que brinca com o tempo, mas sim, uma que caminha por diversos gêneros e entrega um resultado fantástico e satisfatório. De tão bom e criativo, é um daqueles filmes que se pudéssemos voltar no tempo para ver pela primeira vez novamente, voltaríamos.

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