Crítica | Resgate – Ação desenfreada em filme acima da média da Netflix

É inegável que os filmes medianos, de fato, encontraram um lugar para chamar de casa. Projetos que, por algum motivo específico, renderiam prejuízo nos cinemas, são abraçados e se tornam enormes sucessos na Netflix. O serviço de streaming amplifica o lançamento mundial e torna aquela obra acessível para todos. Por esse lado, podemos assistir filmes que jamais chegariam até nós, mas por outro, há a tal lei da demanda: quanto mais é necessário, menos qualidade tem. Porém, para algumas obras o investimento acaba sendo maior e a aposta igualmente alta, como acontece com ‘Resgate’ (Extraction) longa de ação que chega chutando todas as portas, com a promessa de ser o ‘John Wick’ do ano. Se alcance tal feito, é preciso destrinchar, no entanto, há uma energia inegável, que deixa o filme bem acima da média das produções atuais da Netflix.

Para começar, o roteiro é desenvolvido por Joe Russo (Vingadores: Ultimato), baseado no quadrinho ‘Ciudad’, escrito pelo seu irmão (e parceiro na Marvel Studios), Anthony Russo, ao lado de Ande Parks. Ou seja, são mentes extremamente criativas, que trabalham juntas para desfazer as amarras do gênero e tentar criar situações originais e surpreendentes, algo que acontece aqui, seja pelo desenvolvimento complexo do vilão ou pelo desfecho ousado do protagonista, há fortes investidas em tentar desviar o espectador do óbvio, e isso é bom, especialmente pela premissa ser descomplicada e até genérica, ao mostrar um típico herói americano, mercenário, que precisa resgatar um menino de 14 anos das garras da quadrilha rival a de seu pai, também conhecido como um dos maiores traficantes da Índia.  

O que começa como uma simples missão para receber uma boa quantia em dinheiro, se transforma em um dos típicos filmes de “babá em ação”, já que o protagonista, durão e calejado pela vida, acaba se afeiçoando ao jovem indiano e, com isso, luta duas vezes mais para protegê-lo dos inimigos. Mesmo sendo convencional, como já citado, o roteiro até se esforça para seguir outras vertentes e se aprofundar mais no passado dos personagens, algo que também é bom e, sem dúvida, sai do superficial. O desenvolvimento da trama é ótimo, que segue um ritmo desenfreado do começo ou fim, parando apenas para algumas poucas cenas emotivas, que servem para termos empatia pelos personagens. Sem perder tempo com desvios, a ação ocupa a maior parte das cenas, algo que, por si só, já pagaria o ingresso de quem foi assistir só para ver Chris Hemsworth brigando.

Aliás, Chris Hemsworth (Thor: Ragnarok) está surpreendentemente ótimo. Um protagonista com camadas a serem exploradas, que caminha bem entre a ação física, o humor sarcástico e o lado obscuro, que por sinal, é intenso. Tanto o personagem, quanto o filme, são violentos e fazem o que parecia impossível: desvincular o ator de seu personagem mais famoso, o Thor. Ainda que haja sim estereótipos no DNA do protagonista, com a presença de atitudes másculas para parecer badass, como Rambo, John McClane, Ethan Hunt e até mesmo John Wick, ao menos seu lado dramático o aprofunda, ao invés de ser o momento de tédio do filme. Por falar nisso, esses poucos momentos de respiro são fundamentais, já que a direção escolhe filmar sequências de ação intermináveis, como um plano sequência absurdamente perigoso, gravado em quase 12 minutos, que envolve perseguição de carros, correria, tiroteio e muita morte pelas ruas caóticas de Bangladesh. Ainda que haja sim cortes escondidos, é seguro falar que é melhor do que o famoso plano de ‘Atômica’ e mais surpreendente que algumas cenas de ‘1917’.

Outra surpresa fica por conta da ótima direção desenfreada de Sam Hargrave que, inclusive, já trabalhou como dublê de Hemsworth em vários filmes da Marvel, além de ter sido coordenador de dublês em algumas produções de super-heróis. Esse é seu primeiro longa metragem e o trabalho é bom, evidentemente enriquecido por sua experiência em sets de ação. Além disso, há pinceladas do roteiro sobre traumas, críticas ao aliciamento de crianças para o tráfico e algumas outras mensagens que saltam pelo caminho. Não fazem a diferença, mas também não incomodam, assim como a presença de David Harbour (Stranger Things, Viúva Negra), um personagem sem a menor necessidade, mas que, no contexto geral, mais agrega do que extrapola.

A parte técnica, como a direção de fotografia e a montagem enérgica, são equilibradas e ajudam a criar a ambientação “videogame” da história. As cenas de luta são muito bem coreografadas e elaboradas com precisão para deixar o espectador na ponta da cadeira, sem contar as reviravoltas, que até causam surpresa. Dessa forma, ‘Resgate’ é vibrante, entretém e consegue ter sequências de ação ao nível ‘John Wick’ de qualidade, especialmente pela direção ousar em fazer um plano sequência absurdo, de quase 12 minutos, que é impossível de respirar durante. Para um filme Original Netflix, está bem acima da média e certamente vai deixar os fãs do gênero em êxtase. Chris Hemsworth está sombrio, violento e passa longe da personalidade boazinha de Thor. É isso que queríamos ver, não é mesmo?

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