Crítica | ‘Os Irmãos Willoughby’ é a melhor animação da Netflix e uma das melhores do ano

Sair do eixo Disney nos permite mergulhar em traços e aventuras originais completamente fora da curva, como a animação ‘Os Irmãos Willoughby’ (The Willoughbys), mais um projeto original da Netflix após o sucesso de ‘Klaus’ que, diferente da animação natalina, segue a atual tendência de animação 3D, porém, com uma pitada de originalidade e traços marcantes, na mesma vibe criativa de ‘Homem-Aranha No Aranhaverso’, pelo excesso de cores e vivacidade. Com um visual absolutamente espetacular, seja pelos detalhes dos ambientes e dos personagens, ou pelo mundo colorido e alegre que desenvolve, a animação também se destaca por algo que poucas conseguem: criar uma história que possa atingir tanto as crianças, quanto os adultos.

A premissa descomplicada, baseada no livro best-seller de Lois Lowry (autora de ‘O Doador de Memórias’), mostra uma família completamente desestruturada, em que o pai e a mãe detestam ter filhos e, por conta disso, os tratam mal e os deixam sem comida. No caminho inverso do tradicional, as crianças, de tão mal tratadas, desejam se tornarem órfãos e bolam um plano mirabolante para dar um fim em seus pais. Sim, a principio pode parecer uma má ideia ter um plot sobre uma família que se odeia, porém, o roteiro astuto e criativo brinca com as possibilidades e utiliza o humor para, por debaixo de toda a trama, tratar as qualidades e defeitos que, de fato, faz uma família ser uma família. É interessante como há metáforas sobre relacionamentos tóxicos, egoísmo e, até mesmo, faz refletir e desconstruir a ideia da “família tradicional”, já que casais gays e interraciais são mostrados com muito carinho. Um enorme acerto da produção, que não teme expor a realidade de muitos lares. Algo que a Disney deveria aprender a não ter medo de fazer.

Essa subversão de “crianças que desejam ser órfãos” é criativa e bem trabalhada pela direção de Kris Pearn (Operação Presente), que sabe que a premissa pode atingir o público de forma negativa e, ainda assim, sua visão tem uma delicadeza impecável, no mesmo estilo ‘Desventuras em Série’, já que lida com uma história imperfeita, sobre personagens que estão sofrendo sem demostrar o amor que nasce através da dor. Além disso, o diretor aproveita a belíssima composição dos cenários para explorar as cores e a luz de uma forma fantástica. Cada plano é quase uma obra de arte ganhando vida. E com muito humor, ainda que as camadas submersas da trama sejam sobre abandono e falta de amor, isso não transparece na superfície, já que absorve a tristeza e a transforma em alegria, com sequências de ação divertidas e aventuras hilárias, que devem agradar as crianças, especialmente.

Já os personagens, possuem uma doçura dentro de si e suas características são uma junção de inúmeros outros filmes. Há as peculiaridades e estranhezas de ‘A Família Addams’, há o ritmo instigante de Wes Anderson, mas também há referências ao carisma de Willy Wonka, de ‘A Fantástica Fábrica de Chocolate’. Talvez, essa sopa de alusões seja a parte menos criativa. Por se aproveitar de elementos que já funcionaram em outros filmes, o roteiro evidentemente perde parte de sua força e singularidade. Mas, para o público infantil, certamente essas semelhanças servirão para manter conexão com a obra. Ainda sobre os personagens, Ricky Gervais (After Life) vive o gato azul que narra a história e adianta que “não será uma história feliz”. Do começo ao fim, suas cenas são hilárias, especialmente a cena pós-créditos. Fora isso, Terry Crews (As Branquelas) e Maya Rudolph (Missão Madrinha de Casamento) são destaques positivos.

Através de um visual estonteante, da delicadeza e carinho em desenvolver personagens carismáticos, ‘Os Irmãos Willoughby’ definitivamente se torna a melhor animação original da Netflix e uma das melhores do ano até agora. Uma perfeita explosão de cores e overdose de doçura que, além de desconstruir a ideia de família tradicional, ainda é moderna, repleta de diversidade e utiliza o humor para lidar com assuntos complexos, com a leveza de uma nuvem. A obra de arte animada que mistura aventura, humor e diversão, feita sob medida para entender o real significado de família.

Última Notícia

Mais recentes

Publicidade

Você vai querer ler isto: