Chega um ponto na vida de todo ator brucutu de ação em que ele tem que fazer algum papel de comédia. Não chega a ser uma regra escrita, mas Schwarzenegger fez Um Tira no Jardim de Infância, Júnior e Gêmeos, Stallone fez Pare Senão Mamãe Atira e The Rock fez tantos e tão genéricos que eu nem lembro mais o nome. Sem o mesmo peso que qualquer um dos integrantes dessa lista, porém ainda mais relevante que nomes como John Cena, Dave Bautista estreia como protagonista de filme com criança em Aprendiz de Espiã. A presença do ex-lutador de WWE quase consegue tornar o fraco filme em algo suportável, mas a direção faz questão de não deixar que isso aconteça.
A trama acompanha JJ, um ex soldado americano que agora trabalha na CIA, mas seu jeito bruto impede que ele execute o ramo da espionagem com a sutileza necessária. Perto de ser demitido, ele é colocado em uma missão de observação, mas acaba se envolvendo com a família a qual devia apenas vigiar, principalmente a pequena Sophie.
Já vimos do que Bautista é capaz com uma comédia em mãos nos filmes da Marvel, mas a preocupação de se isso conseguiria se sustentar num papel de protagonista era real e imediato. Mas o marombado de luta livre consegue manter seu carisma em um nível aceitável durante toda a duração do longa. O mesmo pode ser dito de Chloe Coleman, parceira mirim acidental de JJ.
Mas os dois protagonistas do filme esbarram em problemas diferentes durante o decorrer da trama. Enquanto Dave sofre pelo andamento do filme, que parece um amontoado de quadros de séries televisivas que impedem o mínimo aprofundamento do personagem que o próprio longa pede, Chloe cai no marasmo de um roteiro que escreve uma criança que fala como uma senhora de 75 anos.
O desperdício dos personagens secundários também é frustrante. Ver bons comediantes como Kristen Schaal e Ken Jeong sendo subutilizados beira um crime contra um filme que tem no humor sua principal ferramenta.
A trama é o básico do básico de um filme de ação, nada surpreendente, mas pelo menos não tenta ser algo além do que pode ser.
O ponto mais negativo de Aprendiz de Espiã acaba sendo o diretor Peter Segal, que já havia feito bons trabalhos como Corra que a Polícia vem aí 33 e 1/3, Como se Fosse a Primeira Vez, Golpe Baixo e Tratamento de Choque. Torcer para que tenha sido apenas um deslize na carreira e não um sinal de que já esgotou a fórmula.
O ponto positivo fica para o próprio Dave Bautista, que demonstrou ser capaz de fazer mais filmes desse gênero e que, com uma direção minimamente aceitável, pode levar mais público aos seus filmes.