Desde seu lançamento em 2016, ‘A Onda’ se tornou um dos filmes de catástrofe mais interessantes fora do eixo americano, em especial, por dedicar mais tempo ao desenvolvimento da tragédia e aos seus personagens, do que para as cenas de destruições colossais. O suspense norueguês foi tão bem recebido pelo público e crítica na época de seu lançamento, que garantiu uma sequência igualmente interessante, denominada ‘Terremoto’ (Skjelvet). Apesar do título genérico e preguiçoso, essa segunda parte foca em uma nova catástrofe e trabalha, de forma aprofundada, as consequências da onda gigantesca que matou milhares de pessoas. Com esse objetivo de dar continuidade aos eventos do primeiro filme, claramente a sequência não estava planejada e nasceu as pressas, por conta do sucesso, porém, o roteiro inteligente consegue driblar as dificuldades deixadas após o desfecho do primeiro e entrega uma história que não apenas completa a anterior, como também se torna um capítulo singular, dentro de uma possível franquia.
Dessa vez, os sobreviventes da onda precisam correr contra o tempo para se salvar de mais uma tragédia na cidade de Oslo, após a construção de um túnel que desencadeia um novo e terrível tremor de terra. Todo o elenco principal está de volta e o roteiro tenta, ao máximo, fugir da sensação de repetição ao trazer novas camadas aos personagens e um cenário mais urbano e, com isso, mais perigoso. Assim como no primeiro filme, a introdução do caos leva mais tempo que um filme desse gênero geralmente levaria e isso pode tanto ser seu diferencial, como também sua ruína, afinal, o público que consome o cinema de catástrofe deseja ver destruição, pânico e efeitos especiais impecáveis nesse tipo de obra, elementos que até existem em ‘Terremoto’, porém, em uma escala menor, contida e subversiva.
A direção de John Andreas Andersen (Inferno na Ilha) é astuta e eficiente para esse tipo de proposta, que precisa equilibrar o drama familiar com eventos grandiosos, decorridos da força da natureza, sem pesar demais para algum dos lados. O diretor, além de conseguir equilibrar a ação com o sentimentalismo, constrói o suspense com tamanha perfeição e desenvolve a história na promessa de que algo grandioso vai acontecer. Sem dúvida, o trabalho de imersão é majestoso, ainda que a história leve tempo demais até entregar o clímax que se propõe. Dessa forma, é praticamente uma história isolada, sobre problemas familiares, dentro de um filme onde a catástrofe funciona apenas como fator resolutório. Um argumento realmente diferente para o gênero e que tem êxito, principalmente, pelo trabalho do elenco, em especial, o ator Kristoffer Joner (O Regresso), mais uma vez roubando a cena com dedicação.
Apesar da demora para engrenar, algo que certamente cansa o espectador pelo excesso de subtramas, quando a ação e a destruição começam, a trama pega fogo, até um desfecho visceral, com efeitos especiais que não ficam muito atrás de blockbusters hollywoodianos. A escolha de deixar o tal terremoto apenas para o 3º, certamente fruto de um orçamento limitado, funciona como fator de entrega ao arrastado desenvolvimento prometido, porém, ainda que bem realizado, poderia ter sido mais satisfatório. As cenas mais importantes são apressadas e grande parte delas em ambientes internos, um desperdício da bela fotografia diurna, mesmo que esses cenários apresentem desafios palpáveis para desdobrar a tensão.
Sendo assim, ‘Terremoto’ é surpreendentemente uma sequência tão boa, senão melhor, que o original, apesar de também funcionar isolado, por conseguir trabalhar o suspense e a tensão com bastante habilidade. Mesmo que a ação seja contida e fraca, se considerarmos as proporções grandiosas de filmes de catástrofe, a alma do roteiro é o drama familiar e, por conta disso, resulta em originalidade. Felizmente, por mais incrível que possa parecer, o clímax visceral dá uma aula de construção dramática em muito blockbuster hollywoodiano.