Crítica | ‘A Possessão de Mary’ já é um forte concorrente a pior filme do ano

Existem diversas razões pelas quais um projeto pode passar de uma boa e criativa ideia, para um completo desastre cinematográfico. Direção desequilibrada, atuações capengas e falhas na proposta podem afetar parcialmente a obra, porém, nada consegue salvar um roteiro ruim. Se a base do filme, sua estrutura óssea, está fadada ao fracasso, dificilmente qualquer outra iniciativa da produção pode salvar o navio de afundar, ou nesse caso, um barco amaldiçoado que serve de eixo dramático para a presepada chamada ‘A Possessão de Mary’ (Mary), terror que se esforça com todas as suas energias para ser alguma coisa, mas que se esquece que precisa contar uma história minimamente coerente. A loucura é tamanha que, por algum motivo realmente misterioso, é estrelada pelo oscarizado Gary Oldman (O Destino de Uma Nação). Entre altos e baixos em sua carreira, nunca foi tão abaixo.

A trama insossa, escrita por Anthony Jaswinski, mostra uma família desregulada que decide comprar um barco antigo em um leilão para passar mais tempo juntos e recomeçar a vida após a traição da esposa, porém, a embarcação que cai em suas mãos nada mais é que um barco fantasma chamado Mary, que vem assombrando marinheiros por muitos anos. Já dá para imaginar que a viagem inaugural se torna uma completa e desastrosa jornada sobrenatural. A partir dessa premissa, o roteiro, que até possui certa criatividade inicial, escolhe explorar cada clichê do terror convencional na tentativa de dar ao filme alguma personalidade que seja, porém, de fato, é difícil decidir o que desce por ladeira abaixo primeiro nessa trama, que nem parece ter sido escrita pela mente criativa de ‘Águas Rasas’.

Ainda que a tentativa de fazer algo minimamente diferente do convencional possa ser um detalhe positivo na proposta do filme, que tira o foco das típicas casas assombradas e coloca em um barco amaldiçoado, a energia que a direção de Michael Goi (responsável por outras bombas!) teve para criar uma narrativa não-linear e alguns planos estilosos, pelo visto não se estendeu quando a necessidade é ser original, já que replica clichês e conveniências do gênero com vigor. Não diria com maestria, pois esses elementos são inseridos de uma forma tão anormal e mal acabada, que o filme mais parece ser o primeiro corte de um projeto maior, que nunca chegou a ver a luz do dia. O que no papel até pode funcionar, visualmente fracassa em proporções épicas.

A direção de fotografia, tão essencial em filmes de terror, por sua vez, peca na escolha das lentes para locais fechados, que deixam o filme ultra escuro, confuso nas (poucas!) cenas de terror e amador em sua grande maioria. Nem mesmo a tal vilã/bruxa/demônio/fantasma é coerente e sua origem, sem a menor lógica possível, é deixada de lado quando a trama não sabe mais para onde seguir. O roteiro trava em certo ponto da história que a narrativa se torna um emaranhado de cenas repetidas, apresenta elementos que não utiliza, subtramas que finge não ver, detalhes que surgem absolutamente do nada apenas para solucionar os problemas e dar um encerramento tão péssimo, que consegue deixar um gosto amargo de tempo perdido.

Já que todas as engrenagens estão enferrujadas e a maré de desinteresse sobe rapidamente, o jeito é se manter na sombra de Gary Oldman para alavancar o longa, que inicialmente seria protagonizado por Nicolas Cage. É sério. O ator não faz absolutamente nada que agregue valor ao filme e se mantém contido como nunca, porém, Emily Mortimer (O Retorno de Mary Poppins) consegue ser ainda pior ao entregar uma atuação forçada, caricata e sem energia para ser uma final girl de filme de terror.

Dessa forma, ‘A Possessão de Mary’ naufraga triunfantemente em um oceano de bobagens, quando poderia aproveitar seu bom roteirista e seu protagonista oscarizado para ser algo mais interessante que um emaranhado de clichês de filmes de terror. Falta energia, originalidade, talento e sustos interessantes para que o filme possa ser, no mínimo, plausível utilizar o nome de Gary Oldman para se vender. O ator vê, da superfície, sua carreira adormecida nas profundezas do mar.

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