É possível que a diferença de tempo entre um filme e sua sequência possa interferir na recepção do público, principalmente se for uma obra datada, que não é mais novidade para ninguém, assim como aconteceu esse ano com ‘Malévola 2’. Felizmente, não é caso de ‘Frozen 2’, pois a diferença de seis anos entre um filme e outro apenas fez a trama se tornar mais madura e complexa, o que por um lado é ótimo, mas por outro talvez encontre certa dificuldade de dialogar com um público mais novo. O que não é problema, afinal, o carisma da franquia se mantém em vigor e busca também agradar os fãs que já estão mais velhos. Se em 2013 o filme original já foi elogiado por ser “diferente” e “criativo”, agora a liberdade artística da produção, após tamanho sucesso, pôde entregar algo ainda mais sublime e ousado ao mergulhar no passado da história e de suas personagens.
A trama se volta para concluir pontas soltas e perguntas que o filme original deixou no ar. De um modo geral, toda sua premissa se constrói através disso e o filme funciona quase como um prelúdio, por revelar a origem de diversos elementos apresentados, entre eles, os poderes mágicos da Elsa (Idina Menzel). Ao retornar à infância das meninas, o roteiro introduz a saga de quando seu pai visitou a floresta dos elementos, onde um acontecimento inesperado teria provocado a separação dos habitantes da cidade com os quatro elementos fundamentais: ar, fogo, terra e água. Esta revelação ajudará a dupla a preencher lacunas deixadas durante suas vidas. No entanto, o apego excessivo ao passado impede que a trama avance para um futuro promissor, servindo, principalmente, como um filme complementar.
Ainda que o foco seja o passado e poucos elementos novos são introduzidos, ao menos, a ambientação muda por completa e se torna maior que antes. Há florestas, mares, cavernas, muito além do que o simples reino gelado do original. A jornada dos personagens em busca de uma tal voz lírica que Elsa anda ouvindo é grandiosa, além de desenvolver ainda mais a relação dela com a Anna (Kristen Bell) e como seus opostos se complementam. Para explorar novos ambientes, a técnica de animação é puro deleite. Rica em detalhes, sejam nas folhas das árvores, na água hiper-realista ou mesmo no rosto e roupas dos personagens, a animação está sofisticada, colorida e viva, em contraste curioso com o tom do filme, mais denso e sombrio que o original. Essa contraposição deixa o roteiro interessante e dá equilíbrio.
A direção da dupla Jennifer Lee e Chris Buck se mantém ainda mais sofisticada que antes. A câmera viaja pelos cenários com leveza e maestria, além das composições das cenas e das surpreendentemente ótimas sequências de ação, como uma em que envolve a fuga desenfreada de gigantes de pedra ou mesma a belíssima cena de Elsa atravessando o mar. Ambos mostram que sabem trabalhar aquele universo para ampliá-lo em grandiosidade, apesar do roteiro não trazer novidades significantes, como já citado. O humor é outro elemento que funciona em uma escala maior, já que aposta novamente no boneco de neve mágico Olaf (Josh Gad) e no Kristoff (Jonathan Groff) como alívios cômicos, sendo o primeiro bem desenvolvido e outro apenas existindo na trama. Olaf está mais emotivo e passa por uma jornada de autodescoberta, que visa encontrar sua maturidade e foca seu humor nessa busca, assim como uma criança que está crescendo e pergunta demais. Inclusive, há uma cena hilária com o personagem recapitulando a trama do primeiro filme que é risada garantida.
E então surgem as canções, parte fundamental da animação, que já rendeu uma indicação ao Oscar de Melhor Canção Original, em 2014, com o hit “Let It Go”. Porém, dessa vez, a música não possui tanta amplitude como os demais elementos. As canções são reflexivas e profundas, com letras mais sofisticadas e, por mais que isso possa ser bom, não funciona no filme, já que nenhuma música fica na cabeça após a sessão. Fora que há momentos musicais em excesso, substituindo alguns diálogos importantes. Alguns até são em formato de vídeo clipe mesmo, o que pode ser divertido inicialmente, mas cansa com o passar dos minutos. Apesar disso, a trilha sonora score está excelente, épica e bem misteriosa. Há uma voz lírica pela trama que lembra algo que a banda Evanescence pudesse fazer. É interessante e madura.
Dessa forma, ‘Frozen 2’ eleva o nível de qualidade do original e entrega um verdadeiro deslumbre visual, além da qualidade técnica impecável. A trama se prende demais ao passado e encontra dificuldades de desenvolver um futuro, mas explora novos cenários e aprofunda o amor incondicional entre as irmãs. Uma sequência épica, entusiasmada e emocional, com um toque sombrio que funciona, porém, deixa a desejar no maior detalhe que fez Frozen ser uma das animações mais populares da história: as canções. Não vamos brincar na neve dessa vez. Mas tudo bem, é um filme sobre amadurecimento e Disney já tem seu Oscar garantido.