Crítica | ‘Uma Segunda Chance Para Amar’ se destaca pelo humor e o carisma de Emilia Clarke

Está aberta a temporada de comédias românticas natalinas, que servem uma mesa repleta de clichês do gênero, acompanhados de deliciosas mensagens positivas sobre a vida, em um roteiro raso e genérico. Talvez por conta disso que ‘Uma Segunda Chance Para Amar’ (Last Christmas) funcione tão perfeitamente no que se propõe, em parte, por agregar certa novidade e criatividade a fórmula familiar, já que traz a curiosa proposta de basear sua trama em uma canção de sucesso, que certamente já embalou muitas festividades desde sua existência. Sendo assim, a mistura de comédia, com drama, romance e música é a salada perfeita que estava faltando nessa ceia e se engana quem acha que os temperos não combinam.

Na trama, Kate (Emilia Clarke) é uma jovem imigrante naturalizada inglesa cuja vida está uma completa bagunça. Ela trabalha como ajudante em uma loja temática de natal o ano todo, porém, quando conhece ocasionalmente Tom (Henry Golding), começa a enxergar o mundo a sua volta além de si mesma e desconstruir barreiras que havia criado para se isolar após uma doença que a deixou perto da morte. Ao seguir a convencional narrativa do gênero, que até utiliza passeios noturnos pela cidade para mostrar o início de uma paixão e como o amor te faz olhar os detalhes, a comédia usa o clássico clima natalino, com direito a luzes e neve, como base e mergulha em situações emocionais e acontecimentos rotineiros para adaptar a canção que perpetua pela história.

A canção “Last Christmas”, do cantor George Michael, que além de servir como base para a premissa (que segue quase que de forma literal sua letra), ainda reverencia tanto o cantor quanto sua obra. Às vezes, até de forma exagerada, já que a canção que dá nome ao filme no original toca pelo menos cinco vezes, todas de formas diferentes, mas ainda assim deixa no ar aquela sensação de “Ok, eu já entendi”. Na verdade, faz parte do gênero ter exageros e previsibilidades e isso certamente não é um grande problema para o roteiro criativo, que desenvolve seus personagens de forma dinâmica e no tempo adequado, tentando aqui e ali fugir o máximo possível de padrões e semelhanças com outros filmes. Essa busca por trazer algum frescor até funciona em certos momentos, apesar de, inevitavelmente, caminhar por caminhos já explorados.

O humor, ponto alto do filme, é eficiente, direto e segue o padrão de comédia inglesa ao melhor estilo ‘Fleabag’, com piadas rápidas e rebatidas com a mesma precisão. Certamente o texto, que ainda encontra espaço para explorar questões sérias, como a intolerância contra imigrantes, utiliza seu humor de forma inteligente e coerente, sem forçar situações constrangedoras para extrair o riso gratuito (pelo menos, na maior parte do tempo!). Muito se deve a dupla de protagonistas. Emilia Clarke esbanja carisma e entrega sua melhor performance em uma comédia romântica até então e um promissor retorno após o final de ‘Game Of Thrones’. Já Henry Golding (Podres de Rico), que também vive um excelente ano, já que parece que Hollywood escolheu seu novo ator oriental favorito, equilibra a química com Clarke e passa a inocência que dá alegria ao filme. Além deles, Michelle Yeoh (Podres de Ricos) e Emma Thompson (Years and Years) entregam performances realmente hilárias.

Certamente, um dos grandes triunfos do longa é trazer a diversidade para o elenco e tratar isso com naturalidade, elemento esse que ajuda a dar um ar de novidade a fórmula batida. Além disso, a direção de Paul Feig (Um Pequeno Favor) conduz a narrativa com um bom ritmo e equilibra o humor com o drama, apesar de não ousar além do esperado. O grande plot twist da trama é feito de forma abrupta, apesar de soltar algumas pistas ao longo da história. Essa revelação é emocional e a trilha sonora auxilia na construção do sentimentalismo, porém, acrescenta um elemento de fantasia que desconstrói o realismo que estava sendo proposto, mas que, por se tratar de um filme natalino, a “magia” exagerada é condizente. Talvez atinja alguns públicos mais que outros.

Entre os filmes natalinos do ano, ‘Uma Segunda Chance Para Amar’ certamente se destaca pelo humor agradável e o carisma de Emilia Clarke, após o final controverso de ‘Game of Thrones’. A trama, baseada na canção icônica de George Michael, é doce e fácil de gostar. Sem pretensão de reinventar a fórmula já batida de comédias românticas natalinas, sobra mais espaço para emocionar e passar uma mensagem simpática sobre amor próprio e solidariedade. A estrela no topo da árvore de Natal desse ano, quem diria, vem ao som nostálgico de “Last Christmas”.

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