“Dora, a Aventureira”, uma das animações mais conhecidas do público infantil dos últimos tempos, ganhou uma adaptação em live-action estrelada pela Isabela Moner. Quer saber se vale a pena conferir o filme? Então confira no vídeo abaixo:
“Dora e a Cidade Perdida” já tem seu mérito na primeira cena: o diretor James Bobin deu um jeito de fazer a introdução no mesmo estilo da animação, bem explicadinha e com a quebra de quarta parede da Dora, e ao mesmo tempo ele brinca com isso, então ele dá uma justificativa, de que é tudo graças a imaginação fértil da criança, ele também brinca com os pais estranhando a Dora falando com o público. Como o começo é bem acelerado, é importante fazer essa identificação funcionar rápido, méritos aí pro diretor.
Inclusive eu acho essa a grande qualidade do filme todo, saber trabalhar com o conteúdo original que eles têm. Vou ser sincero com vocês, eu nunca assisti um episódio completo de Dora na vida e mesmo assim eu consigo identificar algumas características do desenho porque é uma coisa que tá quase na cultura popular, principalmente pra quem acaba convivendo com crianças. E ainda assim, o diretor conseguiu inovar, porque ele coloca a história principal dez anos no futuro, meio que pegando um público que já foi “formado” na infância por Dora e que agora se encontra ali pela pré-adolescência e vai se identificar bem com esse novo filme.
A introdução é bem acelerada, a cara dos filmes pra geração mais nova, então são apresentados a Dora, os pais, a Cidade perdida de Parapata (que é uma espécie de El Dorado), os pais descobrem onde fica a cidade e vão atrás, a Dora quer ir mas eles não deixam, pá, escola. Ai que a “aventura” da Dora começa de fato como um clichê total de filmes de adolescentes no ensino médio, com ela sendo a aluna transferida diferentona tentando se encaixar, aí a gente vê o Diego, go, Diego, go, que quando pequenos eram os amigos aventureiros, e agora mais velho ele tem noção de que a vida não é só alegria como a Dora pensa, tudo muito clichê mesmo. Inclusive os outros personagens apresentados: a sabe-tudo, o nerd que faz alguma coisa especial que obviamente vai ser importante lá na frente, o professor que faz o adulto escandaloso enquanto as crianças estão super calmas… tem tudo isso.
Então como trazer valor pra esse filme se tudo é tão clichê? Justamente colocando esses personagens que tem apelo popular há tanto tempo. Essa parte da escola nem demora muito no final das contas, porque no meio de uma excursão ao museu, um grupo de capangas sequestra a Dora e os amigos no intuito de usar ela pra localizar os pais e a cidade de Parapata. Aí nós saímos do clichê de filme infantil e vamos pro clichê de filme Indiana Jones, Lara Croft, que traz vários pequenos perigos que servem pra unir a equipe, depois eles juntos conseguindo resolver quebra-cabeças que não conseguiriam solucionar separados, tem tudo.
O humor é bem voltado pro público infanto-juvenil, mas o público adulto até consegue dar algumas risadas, principalmente numa cena onde os personagens principais ficam alucinados com o pólen de uma planta, é uma cena muito engraçada. Mas o que o humor tem de bom, os efeitos visuais têm de terríveis, especialmente com o macaco botas e com o raposo, porque não bastasse esses dois serem muuuito falsos, mesmo pra um orçamento até ok do filme, que não tem lá muito mais com o que gastar, o fato deles falarem fica muito artificial pra um filme que tem a proposta de ser realista, querendo ou não a gente tem a transposição do desenho pro mundo real, mas esses pontos acabaram não só não acrescentando nisso, como no final das contas pareceram só desculpas pra colocar o Benício del Toro e o Danny Trejo no cast do filme.
Aliás, falando em elenco, é até maldade julgar atuação nesse tipo de filme, mas realmente muitos são artificiais demais, o professor Alejandro mesmo é tão acanalhado que chega uma hora que cansa, só dá pra sentir vergonha alheia mesmo. A única que realmente se salva é a Isabela Moner porque, querendo ou não, é a que tem mais tempo de tela, e é a única que realmente se entregou à personagem, você compra que ela é uma jovem super feliz, ingênua mas destemida, que faz o que é certo, e isso é muito importante pra que a gente compre a ideia do filme.
No fim das contas a gente tem um filme bem previsível e clichê mas que acaba tendo suas qualidades, principalmente por ter por trás dele uma personagem que já tá aí há tanto tempo. E como o diretor soube trabalhar com esse material que ele tinha de um jeito que fosse amigável pra todos os públicos mas principalmente pra os que cresceram assistindo Dora, ele ganha pontos aí porque nem sempre é fácil conseguir fazer o necessário, somente o necessário como diria o filósofo Balu do Mogli. Então pelo conjunto da obra eu dou um 6,5 pra esse “Dora e a Cidade Perdida”, um 6,5 com carinha de 7 porque tem seus méritos e vale a pena assistir com a família toda.