O tom novelesco do roteiro de ‘O Rei’ (The King) não entrega o filme épico que a premissa e o material de divulgação estavam prometendo. Pelo contrário, a nova aposta da Netflix nessa temática, após o fraquíssimo ‘Legítimo Rei’, caminha mais fortemente para o drama histórico do que para qualquer outra coisa. Sim, por um lado é uma surpresa boa ver que, pelo menos, esse filme, estrelado pelo jovem Timothée Chalamet (Me Chame Pelo Seu Nome), aprofunda e dramatiza sua história em busca de sair da superfície óbvia, porém por outro, a falta de ação e energia da trama torna a jornada muito mais cansativa e desinteressante, afinal, são cerca de 2 horas e meia para serem preenchidas com alguma substância e, em determinados momentos, há lacunas.
Não que seja um roteiro fraco, pelo contrário, é inteligente e se mantém redondo até o desfecho. Mas é inevitável não sentir a sensação de “eu já vi isso antes”. O jovem rebelde, mulherengo e de bom coração, que é forçado a assumir o trono deixado após a morte de seu pai e, com isso, se torna a peça chave de uma guerra eminente. A premissa é novelesca, clichê e basicamente explorada em boa parte de filmes medievais, porém nesse caso, o jovem rei é Henrique V e a guerra é Guerra dos 100 Anos, contra a França. Quando se supera a falta de engenhosidade, o longa ganha força na direção de arte e nos figurinos de época, algo que já se espera ser deslumbrante em obras do gênero e não é diferente aqui. Além disso, a direção de David Michôd (The Rover – A Caçada) é eficiente e explora o contexto da guerra com veracidade, cedendo para belos planos sequência e algumas tomadas em câmera lenta, que tornam as cenas, em especial as da batalha na lama, mais estilosas e visualmente interessantes.
A composição dos quadros através da direção de fotografia e do posicionamento das cenas pelo olhar do diretor, são deslumbrantes também. Em certos momentos, pinturas vivas. E claro, o elenco composto principalmente por Timothée Chalamet, que empresta novamente sua cara de sono e tédio, e Robert Pattinson (O Farol), exagerado propositalmente, mas prejudicado pelo pouco tempo em tela. Ambos fazem o possível com o que tem em mãos, mas Chalamet, que é um ótimo ator em ascensão, precisa trabalhar mais sua expressão e emoção em cena. Dessa vez, faltou entrega. Os demais do elenco, como Joel Edgerton (Boy Erased: Uma Verdade Anulada) e Ben Mendelsohn (Capitã Marvel) não se destacam o suficiente a ponto de ter brilho próprio.
Mesmo com uma trama lugar comum, o ritmo é crescente e, inicialmente, há uma boa construção de expectativa, que se prolonga e se dissipa devido a demora para que algo realmente confrontante aconteça. A tal guerra leva tempo demais para aparecer e, mesmo que seja para desenvolver seus dilemas e personagens com mais complexidade, o filme caminha a passos lentos, que possivelmente pode perder espectadores por conta da ausência de ação e conflitos, porém, conquistar outros através do até bom desenvolvimento da parte dramática, que explora as intrigas e estratégias entre exércitos e reinos.
Sendo assim, ‘O Rei’, prometido épico da Netflix, cai na monotonia, que se torna ainda mais evidente na cara de sono de Timothée Chalamet. Fora a ausência de ação e conflitos, o drama se desenvolve interessante e é salvo pela direção astuta de David Michôd. O impasse maior é: é um filme “lugar comum” em sua trama, mas que surpreende negativamente por não seguir esse mesmo padrão no quesito ação, ou seja, falta energia e sobra mesmice.