Crítica | Dumplin’ – Uma deliciosa comédia contra a ditadura da beleza

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Uma deliciosa leva de filmes com mensagens importantes estão surgindo devido aos inúmeros movimentos sociais que andam tomando conta de Hollywood. Desde dramas que abordam as dificuldades e dores da comunidade negra até comédias leves sobre aceitação, como é o caso de Dumplin’, novo original Netflix que vem com a forte promessa de ser um importante filme sobre o movimento chamado “Body Positive”, o qual busca o amor próprio independente do corpo que tenha, seja gordo ou magro, uma forma da empresa de streaming se “redimir” após o lançamento de ‘Insatiable’, série que causou debates por conter frases e mensagens gordofóbicas. De fato, Dumplin’ é despretensioso, facilmente digerível ao público mais jovem e passa uma mensagem extremamente positiva sobre autoaceitação, porém, é mais um caso de filme que se perde dentro de sua própria expectativa.

Na trama bem mastigada, Willowdean Dickson (Danielle Macdonald), é uma jovem acima do peso e bastante confiante com o próprio corpo, apesar de não ter o respeito e aceitação de sua mãe, uma ex-miss (Jennifer Aniston). Quando se apaixona pelo atleta popular da escola Bo (Luke Benward), ela começa a ter inseguranças sobre si mesma. Will decide, então, entrar para um famoso concurso de beleza como forma de protesto ao lado de outras amigas que não se encaixam no padrão imposto pela cidade. E é dessa premissa que surgem diversos momentos onde são discutidos temas fundamentais como bullying, amor próprio e até mesmo a comunidade LGBTQ+ como forte influenciadora na busca por autoaceitação, tudo isso batido no liquidificador e mixado em um delicioso suco sobre os valores da vida que, apesar de ser saboroso, não tem tanta sustância quanto deveria ter.

O maior problema, ao meu ver, se encontra em seu roteiro fraco, que replica clichês a maior parte do tempo enquanto o tema exige muito mais inteligência, fora as difíceis de serem digeridas soluções mirabolantes que surgem para facilitar a caminhada das personagens por sua jornada, como a fácil entrada no bar de drag queens e a mãe taxada de megera que aceita rapidamente sua filha no concurso após um monólogo bobinho da amiga. Mesmo sabendo que esse não é o tipo de filme feito para ser dramático e profundo, furos de roteiro incomodam em qualquer tipo de gênero e aqui não é diferente. A ausência de um texto trabalhado pesa na naturalidade, mantendo as personagens presas aos seus estereótipos quando a proposta é exatamente fugir disso. Uma pena.

A trama começa sutil, ao apresentar sua protagonista carismática e doce, muito bem interpretada por Danielle Macdonald (Bird Box), prometendo que momentos de lágrimas estariam por vir, coisa que não se cumpre totalmente, afinal, os momentos emocionais, que poderiam ser o forte da trama, até existem, mas são curtos, resolvidos de forma rápida e previsíveis demais, presos (grande parte!) a relação de Will com sua falecida tia. Aliás, quase todas as escolhas do roteiro são calculadas e antecipadas pelo expectador, que consegue prever rapidamente como aquela história vai seguir e ser concluída, restando apenas um emaranhado de mensagens bonitas e fofinhas, exploradas uma a uma até que a conclusão já esperada chegue.

Em contraponto as baixas do roteiro, a direção de Anne Fletcher (A Proposta) está em harmonia com o restante da obra, sem planos espetaculares ou diferentes, apenas seguindo o padrão do gênero, assim como o humor, apesar das poucas piadas realmente hilárias, está presente e funciona dentro da proposta leve do filme. As pinceladas de romance também estão condizentes, apesar da ausência total de carisma do ator Luke Benward (Alma da Festa), ou seja, fica mesmo para a relação entre mãe e filha a maior carga dramática e também os momentos mais cativantes. Jennifer Aniston (Friends) consegue ser doce e divertida, encoberta por uma mãe fútil e rígida. Aliás, por falar em doçura, a atriz e cantora Maddie Baillio rouba a cena estrela muitos dos melhores momentos do longa.

Como mensagem motivacional, ‘Dumplin’ literalmente foge do padrão e é essencial, tocante e inspirador, um filme sobre se apaixonar por si mesmo, se empoderar e desconstruir. Agora, como produto audiovisual, peca com escolhas previsíveis e clichês ao preferir se manter na zona de conforto e seguir um padrão pré-estabelecido por outras comédias sobre o mesmo tema. Está longe de ser dispensável, já que sua mensagem alegre e gentil deveria ecoar por todas as paredes da Netflix até que seja entendido que o amor vem de dentro e que o diferente é mais do que normal, é humano.

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