Crítica | Titãs – 1ª temporada

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Nos últimos anos, a DC ganhou muitos fãs por conta das séries de televisão do canal CW, apostando um tom mais adolescente, juvenil e despretensioso. Com o passar do tempo, tanto Flash como Arrow ganharam uma identidade própria e se tornaram um tipo de nicho em que o fã pode encontrar equilíbrio entre o fan service e tramas originais. Eis que agora chega Titãs, com uma produção totalmente diferente, inovadora e ousada – e, contra todas as possibilidades, muito boa!

A trama acompanha Dick Grayson (Brandon Thwaites), o Robin, algum tempo depois de deixar o Batman e decidir seguir solo, tentando encontrar uma identidade própria. Agora atuando como detetive, ele se depara com o caso de uma garota, Rachel Roth (Teagan Croft), e resolve ajudá-la. Sendo perseguidos por um culto que quer usar a menina como um portal para um demônio, os dois acabam tendo a ajuda de outros heróis nessa jornada.

Logo de cara, as diferenças entre esta série e as da CW ficam bastante evidentes. O entretenimento despretensioso, com episódios fillers e desconexos ficam para trás, dando lugar a uma trama visceral, bem amarrada e com um tom completamente diferente. Na CW, a comédia, o romance e a aura positiva da Era de Ouro dos quadrinhos permeiam tanto Flash como Arrow e Supergirl. Em Titãs – o primeiro seriado do serviço de streaming da DC (disponível apenas nos Estados Unidos por enquanto) – é demonstrado justamente o contrário: heróis obscuros e com problemas reais, mas de uma forma que funciona muito melhor do que os filmes de Zack Snyder.

Outro mérito do seriado em contraposição às séries da CW é por conseguir, em apenas onze episódios, explorar bem as histórias pessoais de todos os quatro protagonistas. Ao longo da narrativa, cada um deles tem seu momento de ter a história desenvolvida e isso é feito com primor: fica muito claro para o público os dramas de cada um, a dúvida que sentem e a busca de cada um deles por uma identidade própria – funcionando até mesmo de metalinguagem para o seriado como um todo.

Isso sem falar do visual da série, que é uma das melhores coisas que a televisão apresentou nos últimos tempos. Se nos trailers tudo parecia exagerado e cafona demais, no seriado funciona perfeitamente. O uniforme de Robin e Ravena são cópias exatas dos quadrinhos, enquanto Estelar e Mutano têm uma adaptação um pouco mais sutil – mas nem por isso menos fiel.

Quando a série não entrega com o visual, o faz com um roteiro bem escrito. Os personagens lembram os quadrinhos originais na essência não só pela caracterização, mas também pela forma como agem: Robin é o líder recatado querendo sair da sombra do Batman; Ravena é uma criança que ainda não conhece bem seus poderes e não quer machucar ninguém; Estelar é a garota que vem de um lugar que não se lembra e tenta se adaptar a tudo aquilo que está a seu redor de forma cômica e trágica; e Mutano é o alívio cômico, mas com seus dramas pessoais sempre de fundo. Além disso, fica claro que a série vai servir como um meio de contar história de vários personagens dos quadrinhos ao longo da próxima temporada, o que é ótimo. 

Para aqueles que buscam uma adaptação fidedigna do desenho animado que ficou famoso no Cartoon Network esta é a série errada. Titãs é uma adaptação fiel dos quadrinhos e que também segue caminhos próprios. As cenas de luta, por exemplo, se apoiam nos filmes de Sin City, com o sangue parecendo algo cartunesco, mas nunca gratuito: todo o derramamento de sangue condiz com o clima da série – assim como os palavrões – e também com a jornada de Dick Grayson de deixar a violência para trás.

Por último, todo o tom da série segue um caminho próprio. A ambientação lembra em alguns momentos a essência soturna e obscura que Zack Snyder caracterizou os filmes da DC, mas nem por isso é um seriado essencialmente sombrio. A diversão está lá, mas o equilíbrio é preciso e fica muito claro que o objetivo é uma história mais adulta, com personagens que vivem tramas complicadas e sérias – abandonando a comédia e a despretensão das séries da CW, mas sem seguir uma história totalmente soturna como a de Batman Vs. Superman, por exemplo.

Surpreendendo todas as expectativas – especialmente depois de um trailer com cenas bastante fora de contexto –, Titãs é talvez a melhor série de super-heróis dos últimos anos e uma das melhores surpresas em tempos recentes – apesar do fraco final. Com uma trama visceral, personagens interessantes e com histórias próprias que realmente interessam, a série usa aquilo que deu certo nos cinemas e nos games de Batman Arkham, trabalha bem com fan service sem deixar os leigos perdidos, e entrega um dos melhores trabalhos da DC dos últimos anos – tanto na televisão quanto no cinema.

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