Crítica | White Boy Rick –

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Richard Wershe Jr. realmente teve uma história de vida peculiar, se tornando informando disfarçado do FBI com apenas 14 anos de idade. Vivendo perigosamente entre dois mundos, deixou o jovem inocente de lado e, com 17 anos, se tornou um grande traficante de drogas, fato que destruiu sua vida adulta e sua família desregulada e imperfeita. Aliás, é sobre imperfeição que o roteiro quer pontuar. Tudo ao redor da vida do jovem é perigoso e imperfeito, e essa falta de empatia pela família o levou a crescer dentro do mundo do crime, onde foi acolhido e tratado com respeito, se tornando então o chamado ‘White Boy Rick’.

O roteiro é perspicaz ao retratar a questão racial sem apontar o dedo para a cultura negra e julgá-la, ao contrario disso, ressalta que Rick escolheu viver como o “garoto branco” no meio dos negros por livre e espontânea vontade, afinal, desde cedo o jovem, independentemente da cor, sofreu da mesma falta de oportunidade e descaso que seus amigos negros, seguindo caminhos semelhantes e, consequentemente, se inserindo no âmbito cultural e social dos mesmos.

A direção de Yann Demange escolhe caminhos interessantes e emplaca belos planos e sequências vibrantes, seguindo (quase que didaticamente) enquadramentos e elementos típicos de um thriller policial, equilibrando de forma boa a tensão com o drama. A trilha sonora e a direção de arte nos levam direto para os anos 80 de tão bem trabalhadas, principalmente quando foca na moda extravagante e luxuosa dos traficantes da época.

Porém, o acerto maior se dá na relação pai e filho, entre Matthew McConaughey e Richie Merritt. O primeiro, fenomenal como sempre, vivendo um pai que ama e apoia, mesmo que seja da forma errada, já o segundo, um jovem em ascensão, uma grande surpresa. Merritt segura a trama nas costas do começo ao fim e empresta muita emoção ao personagem. O restante do elenco está bom, destaque para Jonathan Majors, que vive o chefão do tráfico e Jennifer Jason Leigh, a policial que investiga o caso.

Acertos à parte, mesmo encontrando espaço para fazer uma cabível crítica social sobre violência contra negros nos EUA e a liberação de armas de fogo para o “cidadão de bem”, a trama opta por amenizar os crimes cometidos por Richard, mesmo que “pequenos”, na tentativa desesperada de nos fazer simpatizar com sua trágica história, porém, o jovem apenas recebeu o que buscou, claro, mesmo que tenha recebido uma pena muito alta pelos seus atos, algo que definitivamente poderia ter sido revertido em outras coisas devido a sua idade. Fora isso, o ritmo segue lento durante todo o longa, arrastado e cansativo em alguns momentos, faltando envolvimento de todos os fatores belos da trama, que acabam não conversando quando são colocados juntos.

No fim da sessão, ‘White Boy Rick’ almeja ser realista e cruel, mas alcança apenas um tom agridoce e desconcertante. Pretensioso demais dentro de sua proposta, acaba se perdendo ao buscar ser maior do que é de fato, salvo apenas por boas atuações e uma ou outra crítica social válida.

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