Crítica | A Casa Que Jack Construiu

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De fato, chegar ao final de uma obra de Lars von Trier é um desafio ainda maior do que explicar os caminhos tortuosos que suas tramas costumam seguir. Não é novidade que seu trabalho cinematográfico, do Dogma 95 em diante, se baseia em mostrar tudo aquilo que ninguém mais tem coragem de fazer e isso, convenhamos, é um grande mérito conquistado pelo diretor, afinal, o conteúdo explorado em seus filmes é tão metafórico, ousado e absurdo que só poderia ser abordado pelo mesmo.

E quando você pensa que já viu o máximo, von Trier chega com ‘A Casa que Jack Construiu’ que, apesar de novo, segue o bom e velho modelo de seus últimos filmes, em especial ‘Ninfomaníaca’, ou seja, com muita narração em off e cenas de arquivo, fora que seu estilo de filmar continua intacto, mesclando câmera na mão, sem nenhum tratamento de imagem e cortes secos de um plano para o mesmo, com outros planos exuberantes e que recriam obras de arte, tudo para contar a história de Jack (Matt Dillon), um solitário homem em sua meia idade que se descobre psicopata enquanto conta suas aventuras mórbidas para capturar e matar suas vítimas durante alguns anos de sua vida. Sem piedade ou misericórdia, Jack é o verdadeiro significado de monstro e von Trier, claro, explora seu protagonista da forma mais diabólica possível.

São cerca de duas horas e trinta minutos de duração por uma longa e arrastada jornada de altos e baixos. Somos levados da terra firme ao inferno, literalmente, por um percurso tenso e desconfortante, dividido em cinco partes, elemento típico de seus filmes. Cada parte foca em uma morte específica que marcou a vida de Jack e sua reconstituição, graficamente, é a parte onde entra ousadia, ou seria melhor dizer “tentativa de chocar”, que von Trier tanto busca experimentar.

E aí que mora o grande problema de ‘A Casa que Jack Construiu’, sua busca incessante por mostrar cenas que o público possa repudiar, fator alcançado com mérito pelo diretor em diversas outras obras interessantes, mas que se torna totalmente banal e vazio aqui, uma mera replicação de seus paradigmas, com cenas envolvendo desde crueldade com animais (algumas reais em cenas de arquivo), até cenas violentas com crianças e discursos machistas e misóginos.

Nada de novo se tratando de von Trier, porém, o roteiro é fraco, sem rumo e extremamente apoiado na fama que seu escritor tem, com exceção de uma cena sobre os “ícones” mundiais, onde (mais uma vez!) faz referência à Hitler como um visionário e também faz uma citação a si mesmo, em que mostra cenas de seus próprios filmes e explica, metaforicamente, que usa a arte para falar tudo que não pode verbalizar. Um acerto interessante no roteiro, mesmo que arrogante e repugnante de sua parte. É von Trier afirmando que seus filmes nada mais são do que reflexos de si mesmo.

Apesar do texto fraco, o longa até consegue cativar a atenção, grande parte por conta da tensão que as cenas envolvendo extrema violência causam e pela atuação de Matt Dillon, pontual, divertida e assustadora quando precisa ser, porém, nos perde sempre que desvia para exemplificar as teorias de Jack, algumas interessantes, outras exibicionistas e sem criatividade, culminando em um desfecho épico, no sentido real da palavra, já que conhecemos o Inferno e a trama segue para o lado fantasioso e místico, belo de se ver na tela, bem realizado, no entanto, deslocado do restante do filme. Uma interessante referência à ‘A Divina Comédia’ que não permite que o filme seja inteiramente descartável.

Mesmo sendo a obra mais vazia da carreira de Lars von Trier, ‘A Casa que Jack Construiu’ é um drama que tenta ser terror e, de fato, choca e não é para estômago fraco. As cenas de violência são pesadas, desconfortantes e causam mal-estar, mesmo com o uso de CGI. Toda a essência que fez do diretor um ícone está na trama, mesmo que da forma mais singela possível, quase que prestando uma homenagem a si mesmo, porém, passa longe do brilhantismo perturbador que são suas obras mais extraordinárias.

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