Escritos avulsos sobre uma Galáxia muito, muito distante….

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Texto enviado por Rodrigo Rodrigues Malheiros

1. A hora e vez de um novo paradigma

Quando afastamos as lentes da euforia produzida pelas discussões sobre os Jedi, como eles precisam se comportar, quem são, seu estilo de luta… conseguimos, num processo de distanciamento, entender o contexto (que extrapola a Ordem Jedi) referente ao worldbuinding criado por George Lucas. O segundo passo desse movimento é uma aproximação consciente, capaz de construir um relato, cujo todo dialoga com as especificidades, numa tecitura aos modos das mitologias, narrativas que construíram um imaginário capaz de transcender épocas.

A FORÇA “é um campo de energia criado por todas os seres vivos, ela nos envolve e penetra. É o que mantém a galáxia unida”. Essa frase, dita pelo mestre Obi Wan Kenobi, congrega tudo do universo Star Wars, é o guia que devemos seguir, mesmo que outros pontos pareçam ser mais relevantes, é a FORÇA que constrói a linha narrativa, quando atua nas ações das personagens Seguindo esse raciocínio, é preciso entender que Star Wars sedimenta-se como um conjunto de narrativas que registram a luta entre visões de Governo: os Rebeldes contra o Império de Palpatine, algoz da República, clara analogia à ascensão de Hitler ao poder, em plena República de Weimar, e a Resistência contra a Primeira Ordem, tendo a FORÇA como costureira a ligar todos os pontos desse tecido. A partir da construção desse conflito, aos poucos, a narrativa abre passagem para dilemas específicos que compõem as personagens e os seus arcos narrativos, edificados em arquétipos literários presentes nas grandes narrativas.

Em The Last Jedi, a Resistência, liderada pela General Leia Solo, sofre um ataque substancial da Primeira Ordem, cujas consequências são a exposição das fragilidades de seus integrantes, o que converge à fragilidade da Resistência, enquanto unidade na luta. Além de uma das cenas mais lindas de toda a saga, quando Leia retorna a nave utilizando a FORÇA depois de um ataque, a ferida exposta da derrota instaura um estado crísico. Em termos literários, como elemento estético, a crise tanto expõe as fraquezas como abre caminho para superação. São das rachaduras instauradas pelo estado crísico que surgem as oportunidades de transformação, são das ações de um momento de fragilidade que as antigas concepções são explodidas e reconstruídas. Cabe aqui ressaltar que a relação entre o passado/presente, a fim de sedimentar um futuro transformado, não se dá de forma linear, ou sob a égide de uma noção temporal cíclica, mas brota de uma noção espiralada de tempo. As ações do passado não são apagadas, a ruptura não é absoluta, o novo surge do conflito entre a tradição e as inquietações do presente, ou seja, os resíduos da tradição habitam no novo, mesmo que explodida a velha concepção. Dessa dialética surge um novo paradigma histórico/temático presente no EP. VIII.

Esclarecido esse aspecto estético da obra, é a partir da primeira sequência que o espectador é situado no contexto ficcional e o Prólogo cumpre sua função, uma vez que a narrativa estabelece um diálogo com EP. VII e aponta para uma continuidade. Após o conflito inicial, a trama centra-se em seu título, Rey encontra Luke, que num gesto polemizador, para os haters de plantão, joga o sabre de luz mais importante da Galáxia, o símbolo maior do Jedi, num claro ato de rejeição. É o primeiro signo muito forte, dentre alguns do filme.

O gesto de Luke é o fundamento para toda crítica do mestre à Ordem Jedi. Há tempo, erigiu-se a ideia da técnica de batalha, da utilização do sabre de luz, da manipulação, como instrumento bélico da FORÇA, como essência do Jedi. Luke, ao jogar o sabre, cria um gesto/símbolo de rejeição a uma tradição, cujas consequências, na visão do mestre, culminaram numa estrada de autodestruição. Para ficar ainda mais claro, Rey fala que a relação do Jedi com a FORÇA é de erguer coisas. Brincadeiras à parte, a metalinguagem constrói um discurso em duas chaves semânticas. A primeira remete à estrutura ficcional, volta-se à realidade interna da obra. Ser um Jedi, desenvolver uma relação com a FORÇA, não é tê-la como instrumento bélico, a qual é acionado quando há indício de perigo. A melhor explicação é a alegoria da Ilha, a qual merece um capítulo, por ser a chave de entendimento da Força. Luke quer que Rey entenda a FORÇA a partir de uma dinâmica de relação intensa. Implica dizer que a relação do padawan com a Força é aprimorada a partir de uma jornada para dentro de si. Essa compreensão parte de um Luke amadurecido, experiente, crítico de si mesmo, e é a partir desse viés que o mestre nos oferece um outro paradigma: já não é o Código Jedi, a tradição; a postura de um cavaleiro à serviço da República (que não há, mas luta-se para restaurá-la); as técnicas de luta com sabre que define o Jedi, mas sua relação com a Força, a jornada para dentro de si, o autoconhecimento que o define, e é essa a jornada de Rey.

A segunda chave aponta para o processo de ruptura/continuidade da saga como um todo. Uma antiga tradição será revisada, reconstruída. Os Jedi falharam, é preciso redirecionar para trilhar novos caminhos. Rey, Kylo, Poe e Finn assumem o protagonismo da saga. As personagens a que estávamos acostumados definitivamente passam o bastão aos novos. É o momento de ruptura, ao mesmo tempo de avanço, tanto para a realidade interna da obra, como para o entendimento da saga como um todo. Em outras palavras, Star Wars anda para frente arrastando a tradição, numa dialética de validação e negação entre o velho e o novo. Daí a polissemia do gesto. Não é um simples desdém ao maior símbolo Jedi, o sabre de luz, mas, enquanto arte, enquanto procedimento estético-formal, é um signo/símbolo de negação/afirmação da relação tradição/ruptura/recomeço, o qual estabelece uma autocrítica produtiva.

Seguindo o curso da narrativa, o encontro de Luke e Rey apresenta um mestre Jedi fechado para FORÇA. Refugiado em sua culpa, longe do radar de Snoke. Alguém que carrega o peso da culpa de ter levado o próprio sobrinho ao lado sombrio da FORÇA, massacra-o diariamente, e, progressivamente, Luke perde a fé em tudo que antes fazia sentido. A relutância do mestre Jedi é pertinente. Ele não quer oferecer a Rey a ruína, não quer que ela desenvolva o instinto autodestrutivo de Kylo Ren. Bem ao gesto shakespeariano, por mais que Luke formule discursos que o inocentam, o sangue dos inocentes não sai de suas mãos, afinal, o mestre Jedi é responsável por seus padawans.

Enquanto o arco narrativo de Rey se estrutura como centro motriz para a obra, (o próprio título sustenta essa afirmação), constroem-se mais três arcos narrativos fundamentais para construção das personagens que seguirão com a saga: o batismo de Kylo Ren como vilão; a humanização de Finn e a jornada de Poe para se tornar um líder da Rebelião. Antes de esboçar uma interpretação em torno das narrativas que compõem nossas personagens, vale atentar-se ao episódio da Ilha como alegoria da FORÇA e a relação Rey/Luke, dentro desse contexto.

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2. A Ilha de Ahch-To como alegoria da FORÇA

A alegoria, de maneira geral, pode ser entendida como um mecanismo linguístico/discursivo que consiste em expressar pensamentos, ideias, concepções filosóficas sob forma figurada. Na concepção literária, a alegoria se apresenta como símbolo ou metáfora capaz de representar ideias complexas, a exemplo da FORÇA. A FORÇA, como já foi dito, é o guia que devemos seguir para entendermos a Ilha de Ahch-To. Quando Rey chega na Ilha, sabemos que sua primeira reação é entregar o sabre de luz ao mestre Luke Skywalker, e suas implicações já foram tecidas anteriormente. O que nos interessa é entender a Ilha como alegoria da Força e, para tanto, é crucial entender o funcionamento da Ilha. Nesse aspecto, o espectador é levado pela câmera, que assume a função de narrador, a acompanhar o dia do mestre Luke, desde o amanhecer ao findar do dia. A importância da cena é mostrar como tudo funciona harmonicamente, como existe um equilíbrio que sustenta, organiza aquele ecossistema, em específico.

Com a chegada de Rey, o equilíbrio presente na Ilha sofre alterações em sua dinâmica, a ponto das habitantes, protetoras da ilha, não simpatizarem com sua presença. Ora, elas simbolizam a mãe terra, a capacidade de cuidar que envolve o paradigma matriarcal, de cooperar para uma vida plena com a diversidade que nos cerca. Não é apenas um dado cômico, mas revela em que nível de intimidade com a FORÇA a aprendiz está. Rey é um elemento dissonante dentro da dinâmica daquele lugar, pois sua relação com a FORÇA é em estado bruto, ainda necessitando de ser lapidada, de encontrar-se consigo para poder senti-la de fato. Luke sabe do potencial de Rey, pois presencia a capacidade de sua padawan. Leva-a para o topo da Ilha, a um ponto de equilíbrio, e a ensina como sentir fluir a FORÇA. Nesse instante, o mestre pergunta o que ela sente e Rey responde que sente o equilíbrio entre as coisas. O mais fascinante é que a sequência de frames remete a eventos da própria Ilha, a brutalidade das ondas, o ninho acolhedor dos passarinhos, a natureza em seu desenvolvimento, o sentimento de haver uma ordem, uma estrutura de sustentabilidade sobre tudo. Consequentemente, era de se esperar que a pulsão de vida estivesse ao lado da pulsão de morte, a energia vital precisa equalizar-se com as adversidades que a cerca. A confluência dessas estruturas conflitantes é a representação de como a FORÇA precisa conviver em sua contradição, a luz e o lado sombrio presentes, relacionando-se.

É nesse contexto que a ligação de Kylo Ren e Rey pela via da Força encaixa-se como um mosaico, o qual estabelece uma tensão entre a luz e o lado sombrio. Esse elo entre os dois, ao mesmo tempo que evidencia quão poderosos são, expõe suas fragilidades, cada um a sua maneira. Kylo e seu dilema sobre o que ele se transformou e Rey inquieta em seu dilema interior: construir uma narrativa que a ligue a sua origem e feche as lacunas que a aterrorizam, especificamente, a descoberta de quem são seus pais. Rey mergulha literalmente e figurativamente no mais profundo de seus dilemas, nas profundezas da Ilha, em busca de uma resposta que complete sua identidade, que traga alento para seu questionamento desde o ep. VII. Esse mergulho no sombrio de si mesma é também uma batalha espiritual, em que a protagonista precisa enfrentar, tal qual Luke enfrentou em Dagoba, quando viu Darth Vader como reflexo de si mesmo. O que se vê refletido são várias dela mesma, e não pais de linhagens importantes. Rey é uma comum, filha de pessoas comuns, escolhida pela FORÇA para um destino incomum.

Numa mesma Ilha, percebe-se a confluência dos contrários. Estamos diante de um lugar sagrado, guardião das tradições Jedi, que ao mesmo tempo expressa a harmonia da vida, em perfeito equilíbrio, e revela o lado sombrio. Essa tensão é uma espécie de espelhamento da relação Kylo Ren/Rey. A cena das mãos que se tocam (Rey e Kylo), mesmo que distantes geograficamente, espelha um símbolo antigo da Ordem Jedi, encontrado na Ilha. Ahch-To não é só um lugar, um refúgio para o mestre Luke, mas fica claro que para a narrativa funciona como um lugar em que a FORÇA se manifesta por inteira, e no plano metafórico, serve como alegoria da Força, uma vez que ao observá-la, as palavras de Obi Wan kenobi ecoam em seus labirintos “a Força é um campo de energia criado por todas os seres vivos, ela nos envolve e penetra. É o que mantém a galáxia unida”.

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3. A jornada e os heróis

A jornada do herói é um termo que se popularizou a partir dos estudos de Joseph Campbell no tocante ao caminho trilhado pela personagem em direção a resolução de um problema de grande amplitude, o qual repercute numa comunidade. Essa personagem, aparentemente incapaz de cumprir o chamado, vê-se impelida por uma série de fatores a aceitar a jornada. Acompanhado por um mentor, o qual guiará seus passos e lapidará suas habilidades, a personagem (herói) resolverá o problema ao mesmo tempo que se constitui enquanto herói. Essa jornada diz respeito ao enfrentamento de uma situação de conflito presente no mundo ficcional, mas também aponta para uma jornada para dentro de si, uma espécie de enfrentamento do eu interior. Sem dúvida, a jornada do herói fala da jornada humana, da capacidade de não se curvar aos infortúnios da vida e seguir adiante. O melhor exemplo, dentro do universo Star Wars, é o EP. IV.

Com o desenvolvimento das narrativas modernas, as jornadas sofrem mutações enquanto procedimento estético-temático, e os enfrentamentos, antes voltados à batalha física, tornam-se cada vez mais complexos. Personagens seguem suas jornadas, em espectros diferentes e elaboram uma representação tangível na realidade, em nosso contexto. No caso de The Last Jedi, Kylo Ren, Rey, Finn e Põe Dameron seguem suas jornadas, trilham suas histórias e constroem-se enquanto personagens, cada um a sua maneira.

Poe Dameron, o melhor piloto, mais aguerrido dentre todos, destemido, carrega consigo uma postura heróica sacrificial. É uma força da natureza, “imparável”. Os predicativos elencados não é uma conclusão a partir de uma fala, ou de um relato, mas da própria ação da personagem, o que traz mais credibilidade ao processo de formação da personagem. Já na primeira cena, seu etos é construído em concordância ao arquétipo do herói clássico, no entanto, sua mentora, General Leia Solo, enxerga uma falha crucial de visão estratégica. Avançar as linhas inimigas trouxe consequências irreparáveis, a morte de muitos da Resistência. Seu impulso irrefletido carrega consigo um ato irresponsável para um líder. Poe terá que aprender a refletir mais antes de agir. Precisa ser treinado psicologicamente e intelectualmente, para desenvolver-se como estrategista, como líder, uma vez que sua habilidade numa X-wing é inquestionável. Às vezes, o líder precisa assumir a postura de servo é aprender a se revelar no momento propício. É assim que Leia, juntamente com Vice Almirante Amilyn Holdo, torna-se fundamentais no desenvolvimento do líder da futura Rebelião.

Na batalha de Craig, Poe aprende sua lição. Sua estratégia de ataque coloca a vida de seus comandados em primeiro lugar e percebe a hora de recuar em nome dos seus. Saber liderar é agregar, ganhar a confiança dos seus e lutar, acima de tudo, responsável por seu grupo, refletir sobre a melhor estratégia. Esse fardo pesadíssimo é assumido por Poe Dameron, quando estão fugindo da Primeira Ordem, em Crait, Leia aponta para ele como o novo chefe. É fechado o ciclo da General Leia Solo e iniciado uma nova liderança.

Paralela a jornada de Poe, que se define como a construção do novo líder da Resistência, Finn tece os fios de uma humanização, da composição de uma identidade enquanto humano. No EP. VII, o Stormtrooper FN 2187 rebela-se contra a Primeira Ordem e junta-se à Resistência. A cena em que a personagem anda nas areias de Jakku, e vai retirando sua armadura, é significativa para a construção da personagem, pois, simbolicamente, após Poe Dameron batizá-lo de Finn, há uma conversão do número para o nome, do soldado para o homem, do produto para o humano. Suas relações afetivas, que envolvem Poe e Rey, são marcadas pelas descobertas de sentimentos e pela possibilidade de externá-los. A jornada de Finn configura-se por sua humanização. No EP. VIII, a sua estratégia de buscar Rey, movida pelo sentimento de amizade, leva-o a uma aventura, a qual circunscreve uma narrativa a parte que se concluirá num desastre. É preciso ir à Canto Bight, o planeta cassino, para convencer um guia e conseguir desativar uma espécie de radar central, localizado na nave de Snoke, A Supremacia. Ao embarcar nessa aventura, Rose, um soldado da Resistência, torna-se parceira e começa a estabelecer uma relação de confiança e admiração. Essa admiração, após tantos contratempos, torna-se um sentimento amoroso, o qual, na batalha de Crait é crucial para sobrevivência de Finn. Sua jornada é completa, a partir do momento que ele experiencia um sentimento mútuo. Pode parecer piegas, clichê, novelesco… mas para a personagem é exatamente que faltava. Tornar-se humano é também apaixonar-se, permitir-se provar dos sentimentos em sua inteireza.

A maior crítica que escutei do arco de Finn, é que o fracasso de sua missão não leva a nada. Ora, o filme, em sua dimensão total, fala de fracassos. Rey fracassa em trazer Kylo para a luz, Leia não salva a Resistência, Finn não completa sua missão, Poe é detido por desacato à autoridade e é responsabilizado pelas mortes de seus companheiros, Luke falha ao treinar seus alunos, dentre eles Kylo, e falha em tentar impedir Rey de se encontrar com Snoke. Mas são essas necessárias falhas que lapidam as personagens e as transportam para uma outra percepção da vida. Todos cresceram com os erros, portanto, os fracassos encarados por cada um, os tornam melhores. Além do mais, o fracasso de Finn guia a narrativa para a batalha de Crait, uma das cenas mais lindas do cinema em termos de fotografia, que por sua vez é palco da luta entre Luke e Kylo Ren.

Rey e Kylo estabelecem uma relação de tensão, entre uma admiração por entenderem a ligação pela FORÇA e rivalidade, por não partilharem o mesmo lado da FORÇA. Enquanto Rey persiste em ser treinada por Luke na intenção de estar preparada para seu destino, Kylo investe na ligação, via FORÇA, entre eles, para trazê-la para o seu lado. Enquanto Rey parte para uma jornada interior, mergulhando nas profundezas do lado sombrio da Ilha, Kylo a observa e estuda seu medo (a incerteza sobre quem são seus pais somada ao terror de ter que encarar a realidade) para criar um elo e convencê-la de seu propósito. Enquanto Rey vai ao encontro de Kylo, mesmo contrariando a vontade de Luke, a fim de persuadi-lo ao lado da luz, estabelecendo uma analogia à cena de Luke e Vader ante Palpatine, Kylo a entrega ao Líder Supremo Snoke numa estratégia arriscada. Ambos querem destruir Snoke (um líder poderosíssimo, mas que comete um erro clássico,  afogar-se na arrogância e subestimar o oponente por se sentir superior), mas por motivações distintas. Kylo, cansado de ser oprimido por seu mestre, quer superá-lo, por alimentar aquilo que foi treinado a sentir: ódio. Superá-lo significa tornar-se o líder da Primeira Ordem, ter o poder em sua totalidade. Completar uma jornada perigosa, atravessar completamente a ponte que liga a luz e o lado sombrio. Rey pretende destruir Snoke por ser um líder ganancioso, o qual destruiu os ideais de República e esmigalha a cada investida a esperança de uma Galáxia livre da opressão da Primeira Ordem. Para ambos, em termos de narrativa, Snoke é um marco, pois simboliza a passagem para um novo estágio. De fato, ao derrotar o Líder Supremo, Kylo e Rey ficam frente a frente e precisam decidir seus destinos. Kylo decide seguir no lado sombrio da Força, contrapondo-se ao destino de Rey, a qual precisa aceitar o lugar que lhe cabe, ser uma Jedi.

As personagens sensíveis à FORÇA estão em lados opostos. Rey, após passar por sua provação, a revelação de quem são seus pais, pilota a Millennium Falcon para resgatar o que resta da Resistência, Kylo aponta sua armada para o último suspiro da Resistência. Os dois passarão por um último obstáculo, Rey terá que provar seu valor elaborando uma maneira de salvar seus companheiros, Kylo terá de enfrentar seu mestre, Luke Skywalker.

A batalha entre Luke e Kylo é o ponto mais alto do combate, não só porque é revelado que Luke, através da FORÇA, materializa-se na forma que tinha quando era mestre de Kylo, mas porque, em uma de suas falas, revela que enquanto Kylo viver, levará consigo as memórias de Han e os ensinamentos de Luke. Não há como fugir de nossas memórias, não há como apagar os sentimentos mais profundos enraizados em nosso ser. Esse é o fardo de Kylo Ren, sua vida é marcada pelo conflito interno, por uma batalha eterna, entre as fagulhas de bondade que ainda teimam em queimar e o lado sombrio, que o domina cada vez mais. Luke não foi detê-lo, não foi matá-lo, não foi enfrentá-lo, no entanto, como mestre Jedi, ensina-o pela última vez. Esse dado é grandioso, porque não é soberbo, não é triunfante, é humilde, é sábio.

Rey é o último Jedi. Ela tem os manuscritos, ela sabe como sentir a FORÇA e sabe que seu destino está ligado ao destino da Galáxia. Assim como Anakin, um simples garoto, sem uma linhagem importante, de um lugar qualquer, foi convocado para uma grande missão, Rey, aceita sua missão é, numa última investida, abre um caminho de fuga utilizando a Força. A cena é simbólica, nasce uma Jedi, não porque ergueu pedras com o auxílio da FORÇA, mas pelo propósito, por aceitar o Despertar da Força e tomar o controle da situação.

As quatro jornadas dos protagonistas, da nova geração de personagens da saga, estão completas. Fomos levados a acompanhar cada narrativa até Crait, e vê-las entrelaçadas para construção da grande narrativa.

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4. A última lição do mestre Jedi

Falar de Luke é rememorar uma tradição, a qual sedimenta-se como linha central da trilogia clássica. Trazer à narrativa a presença de uma personagem tão icônica é dialogar frontalmente com a tradição e propor uma dinâmica de validação e ruptura dessa tradição. Portanto, uma contextualização faz-se necessária.

Uma Nova Esperança é o primeiro filme da saga, 1977. Num planeta distante do centro da Galáxia, Luke Skywalker vive uma monôtona vida, no anseio de um dia ser piloto. Os Rebeldes lutam pela democracia e instauração da República, naquele momento tomada pela força opressora de Palpatine. A princesa Leia Organa é presa por Darth Vader e a última esperança está nas mãos de Óbi Wan Kenobi. O encontro do mestre Jedi com Luke marca o início de uma pequena chama de esperança que inflama a ponto de gerar a primeira grande vitória dos rebeldes com a destruição da Estrela da Morte. O destino de Luke converge ao do seu pai, Anakin Skywalker, que tornou-se a figura mais temida da Galáxia, Darth Vader. Luke insiste em dizer que há bondade em seu pai, ainda há bondade e é essa bondade que precisa despertar, caso contrário, a Galáxia sofrerá o golpe fatal, a perpetuação do poder de Imperador Palpatine. Em Dagoba, encontra-se com o mestre Yoda, responsável pelo seu treinamento. É importante entender que as lições de Yoda sempre remetem a um aperfeiçoamento do próprio eu. O equilíbrio de si mesmo, vencer os medos, estabelecer uma relação com a FORÇA são mais importantes que a técnica de batalha, pois “Minha aliada a Força é, e poderosa aliada ela é. A vida a cria, e a faz crescer. Sua energia nos cerca e nos une”. É preciso citar essa frase, pois ela repercute assustadoramente no EP. VIII.

No EP. VI, em seu desfecho, Luke sensibiliza seu pai e o pouco de luz que havia dentro do temido Sith foi o bastante para iluminar o velho Jedi, a qual tinha falhado em salvar a mãe, falhado em salvar sua esposa. Darth Vader (Anakin), num último ato, mata o Imperador e traz o equilíbrio a FORÇA, como indicava a profecia. É icônica a cena em que Luke segura seu pai e tenta-o salvá-lo, mas Anakin pede para que ele retire seu capacete. O pai, não mais o algoz, fala que ele já o salvou. O grande ato de Luke foi acreditar em seu pai, ter esperança, não duvidar do que sentiu, quando um com a FORÇA conseguiu perceber tal sentimento em seu pai.

O primeiro ciclo se fecha e Luke, no intervalo do EP. VI-VII, convoca alguns alunos para ensiná-los o treinamento Jedi. É nesse ponto que o EP. VIII estabelece suas bases. Luke se refugia na Ilha de Ahch-To. Fecha-se para a FORÇA e seu paradeiro torna-se de grande valia, uma vez que a Resistência sofre com desferidos ataques da Primeira Ordem. Rey chega à Ilha e precisa encarar todo contexto supracitado. A primeira cena em Ahch-To revela um Luke eremita, isolado em seus fracassos como mestre Jedi. Carregando uma culpa imposta por si mesmo (seu sobrinho Ben Solo foi deduzido pelo lado sombrio, declarou-se inimigo da Resistência, destruiu o esforço de Luke de reestabelecer a Ordem Jedi e se juntou ao Líder Supremo Snoke). A sequência de acontecimentos devastou o ímpeto de batalha de Luke e o fez desacreditar, a centelha apagara-se.

No entanto, a jovem Rey apresenta-se como alguém destinada a reacender a chama, a fim de incitá-lo a juntar-se à Resistência. Num primeiro momento, Luke mostra um niilismo diante da causa improvável de ser superado, mas, aos poucos, vai percebendo, em Rey, uma sensibilidade à Força vista em poucos. A chave para a sequência dos fatos, no que tange a continuidade da narrativa é aparecimento de Yoda. O grande mestre Jedi em seu último ensinamento a Luke expõe suas fragilidades e ressalta que são os fracassos que nos ensinam. O fracasso é um inimigo sagaz, pois o afeta internamente, deixá-o abatido, desacreditado. A atitude diante do fracasso é que o define.

Esse dado é fundamental, uma vez que o tema dominante de todo filme é como lhe dar com o fracasso. Os planos, investidas, estratégias, batalhas… fracassaram. Assim como foi em Dagoba, Yoda enfatiza a relação com a FORÇA, não as habilidades de batalha. Não é a técnica em si, que define o mestre Jedi, nem a utilização da FORÇA como uma extensão do sabre de luz, mas uma vida de autoconhecimento e relacionamento com a FORÇA. É assim que Luke preparou-se para seu último combate. Em meditação, fez-se presente, não em carne e osso, mas como energia, fazendo a menção ao que Yoda o ensinou em Dagoba “Seres luminosos somos nós. Não esta matéria bruta”. Como um verdadeiro mestre, Luke, em seu encontro com Kylo Ren, não pretende derrotá-lo, mas ensiná-lo. O objetivo não é demonstrar sua superioridade, mas, contrapondo-se a Snoke, cuja a arrogância o deteu, o mestre Jedi estabelece uma luta de ideias com seu oponente. As lembranças que Ben Solo carrega no seu íntimo, tanto de seu pai (simbolizada pelos dados de Han Solo), de sua mãe, quanto de seu tio, o próprio Luke, irão repercutir em sua vida, num eterno conflito. O mestre Jedi atrasa a investida de Kylo, dando tempo de fuga para o que restou da Resistência e termina sua jornada, tornando-se um com a Força e estabelecendo o diálogo direto com os ensinamentos de Yoda “A morte é uma parte natural da vida. Feliz fique por aqueles que na Força se transformam”.

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