Crítica | Lady Bird – É Hora de Voar

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Se o século 21 pudesse ser resumido em algumas poucas linhas atualmente, sem dúvida alguma os grandes destaques na sentença seriam “empoderamento” e “autenticidade”. A primeira porque é a culminação de séculos de luta por parte das mulheres em busca de uma vida melhor, uma sociedade igualitária. A segunda porque é justamente o que falta a uma geração marcada pelo uso exacerbado das redes sociais e que simulam reações. Lady Bird – É Hora de Voar é a síntese perfeita dessas ideias, unindo uma história verdadeira e sensível a uma jornada até mesmo autobiográfica de amadurecimento.

O filme conta a história de Lady Bird – nome que Christine McPherson (vivida por Saoirse Ronan) inventa para si mesma -, em seu último ano de ensino médio. A garota mora em Sacramento, na Califórnia, e detesta a cidade, desejando mais do que tudo que consiga fazer uma faculdade longe de lá – e principalmente, longe de sua família (talvez, mais especificamente, sua mãe). A mãe, por outro lado, quer que a filha fique por perto. Além das longas discussões que esse empecilho causa, Lady Bird precisa encarar desafios ainda maiores: os de ser uma adolescente.

É interessante ver como diversos detalhes da trama se assemelham à história da diretora Greta Gerwig, que compartilha de suas raízes e origens, com algumas liberdades criativas. A garota que cresceu em um meio católico, muito interessada por artes, filha de uma enfermeira; todos esses aspectos foram retirados diretamente da história da cineasta e inclusos no filme.

Apesar de isso por si só ser algo bastante intrigante, o que mais impressiona é a familiaridade que Greta consegue inserir na história. A forma como Christine McPherson, ou melhor, Lady Bird, aparenta ser uma adolescente comum com problemas comuns e dilemas ordinários – mas não insignificantes, nem de perto – é essencial para que se crie um laço entre o espectador – seja ele um adolescente que passa pelas mesmas coisas, um adulto que se lembra dos dramas da juventude ou até mesmo uma criança que ainda espera passar por tudo aquilo.

No resultado final, essa familiaridade serve ainda mais como corroboração da mensagem de autenticidade e crescimento que o filme quer passar. O longa passa uma mensagem muito simples – e justamente por isso se encaixa também – acerca da pessoa que tentamos ser e da pessoa que realmente somos. Mostra o conflito interno/externo de uma garota beirando seus 18 anos ao se confrontar com o fato de que ela quer ser mais do que é porque a convenção social implica tal necessidade.

Isso tudo com uma atriz fenomenal, Saoirse Ronan, que vem se provando como uma das grandes promessas de Hollywood nos últimos anos – principalmente depois de seu trabalho excepcional em Brooklyn. A garota que era considerada uma atriz com “mais cara” de filme independente, aos pulos consegue corroborar a imagem de grande nome do cinema que vem adquirindo. Aos 23 anos, ela já disputa o Globo de Ouro com mulheres que têm idade suficiente para ser sua avó – se isso não é motivo de celebração, esse jornalista que vos escreve não sabe o que de fato é.

Tudo isso durante uma história comedida, com nuances de drama nos momentos certos, mas apostando em um tipo de humor funcional e nada escrachado ou exacerbado. No fim das contas, isso acaba funcionando mais como um meio para um fim: que é relatar como a adolescência pode ser uma fase complicada; como sua transição para a juventude pode ser ainda mais complicada – sendo ao mesmo tempo libertadora e sofrida; e como uma pessoa deve defender aquilo que acha certo, apesar das circunstâncias contrárias – tudo isso sempre de maneira verdadeira, sendo aquilo que realmente somos.

Mais interessante ainda é ver como essa jornada é contada de maneira despretensiosa e divertida. A puberdade da protagonista é relatada com certa comicidade, apesar dos dramas sofridos. O sexo é encarado como uma barreira quase física. E o melhor de tudo: todas essas particularidades da adolescência ficam em evidência do ponto de vista feminino, corroborando que acompanhamos a história de uma garota de 18 anos.

Lady Bird – A Hora de Voar é um grande triunfo cinematográfico, pela sua perspicácia e pela sua simplicidade nada simplista – muito pelo contrário, na verdade. Com uma trama parcialmente autobiográfica, a diretora Greta Gerwig consegue trazer uma história que parece muito familiar, de fácil identificação, apresentando uma garota em sua jornada de amadurecimento e o faz com muita autenticidade. E é justamente isso que Lady Bird é: um trabalho feito de maneira autêntica, sincera e de coração, mostrando de maneira sensível e honesta uma história de erros e acertos. E evidencia como em toda fase da vida, os erros também definem as pessoas – talvez muito mais do que os acertos.

Nota: 10/10

Ficha técnica: 

Lady Bird – É Hora de Voar

Direção: Greta Gerwig

Roteiro: Greta Gerwig

Data de lançamento no Brasil: 15 de fevereiro. 

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