Crítica | Star Wars: Os Últimos Jedi

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40 anos atrás, Star Wars chegou aos cinemas consolidando parâmetros do gênero de fantasia e ficção científica. A Jornada do Herói, apresentada por Joseph Campbell em seu livro, foi incrementada ao cinema a partir da criação de George Lucas. Naquela época, o diretor deixou muito claro que a Força possui duas vertentes: o lado da luz e o lado sombrio. Sempre ficou muito bem estabelecido que os Jedi eram o maior símbolo de esperança e prosperidade na galáxia e os Sith, por outro lado, representavam tudo o que há de perverso e maligno. Agora, 40 anos depois, Rian Johnson desconstrói toda a noção de maniqueísmo que a saga sempre teve em suas correntes sanguíneas, misturando o branco no preto, e trazendo uma noção muito interessante de ambiguidade na Força.

Rian Johnson, o diretor e roteirista do filme, se desprende completamente das correntes que O Despertar da Força tinha mantido para essa continuação, e além disso, segue uma linha de história com um propósito muito diferente daquele apresentado por J.J. Abrams. Se o episódio VII se preocupava em reciclar elementos clássicos, utilizando-se de nostalgia como um meio para um fim, nesse oitavo, Rian deixa de olhar para o passado da franquia, para pensar no futuro. Justamente por conta disso, Star Wars 8 é, depois do episódio 4, o filme mais ousado da saga e mais distinto de tudo já apresentado até aqui.

Figuras clássicas, as tais “lendas” como são chamadas no filme, como Luke Skywalker (Mark Hamill) e Leia (Carrie Fisher) são vistos como relíquias que estão em tela para uma passagem de bastão simbólica, mas bastante evidente. Se J.J. tinha o plano de usar esses personagens como presenças constantes de bastidores, Rian Johnson prefere focar nos novos personagens da saga, descartando a utilização de rostos conhecidos como coadjuvantes de peso, e faz uma alegoria bastante intrigante: os próprios vilões do filme tratam os personagens originais como artefatos antigos que devem ser apagados, como se eles servissem para corroborar que o tempo desses heróis já acabou.

De fato, o grande destaque do filme está na direção bastante competente de Rian Johnson (conhecido por seu trabalho em Looper: Assassinos do Futuro). O diretor entende muito de cenas de ação, principalmente nas batalhas no espaço, que são o auge do filme. Johnson adiciona certa dinâmica nas aeronaves que não havia anteriormente, lhe dando liberdade para aproveitar resoluções visuais impressionantes e muito bem-vindas. É também durante as batalhas espaciais que os núcleos secundários do filme se desenrolam – se arrastando em alguns momentos.

Concomitantemente, o filme foca na história de dois mestres e dois aprendizes: Luke e Snoke (Andy Serkis); Rey (Daisy Ridley) e Kylo Ren (Adam Driver) e são nesses momentos que a história tem seus ápices, suas contradições e o desenrolar mais ousado. A relação entre esses personagens, principalmente entre Luke, Rey e Kylo Ren, é fundamental para entender como Rian Johnson quer misturar e problematizar as definições clássicas de herói e vilão.

O grande problema no meio disso tudo é por conta da visão que o cineasta tem para a franquia. O Despertar da Força tinha uma aura mais nostálgica, utilizando referências, easter-eggs e personagens clássicos como meios para o fim da história. Nesta continuação, a ideia que Johnson tem para esses personagens é outra e fica evidente a falta de um plano maior para a franquia e de planejamento. Durante todo o roteiro, parece que os personagens respondem simplesmente a conflitos e interesses imediatos, como se só funcionassem em um sistema de ação-reação. Fica claro que falta a elaboração de um plano maior para a trilogia, uma mente por trás que configure o que deve acontecer.

Além disso, mistérios construídos por J.J. no antecessor são resolvidos de maneira simplista demais, com viradas bruscas na trama, mas sem nunca se compromissar a elaborar um bom desenvolvimento para esses enigmas, que acabam sendo respondidos mais por obrigação do que qualquer outra coisa. Para aqueles que esperavam uma trama complexa por trás de mistérios relacionados a Luke, Rey e Snoke, já podem esquecer isso.

Se de um lado Rian Johnson consegue exercer um trabalho exemplar e muito competente como diretor, por outro, o texto do cineasta não funciona muito bem. As piadas, que realmente divertem em alguns momentos, parecem exageradas vez ou outra. E mesmo que o tom não seja o maior dos problemas, o diretor também é mais ousado: ele subverte valores próprios de personagens e expectativas carregadas pelo público.

A mudança desses valores pode ser observada no próprio Luke, isolado da galáxia, sem muitos motivos aparentes. O diretor é sim alguém muito ousado e audacioso, mas o é de uma maneira pouco digna ao que esses personagens representam, ou pelo menos costumavam representar. A subversão de expectativas é, ao mesmo tempo, um dos pontos altos e fracos do longa.

De um lado, é uma alegria ser surpreendido a cada momento no cinema, considerando que o filme é cheio de plot twists. Mas por outro, as viradas bruscas de roteiro muitas vezes acontecem de maneira muito fácil e conveniente, como um recurso barato de roteiro, sem muitas delongas.

Por fim, a ideia de ambiguidade na Força que o filme traz é bastante interessante, mas no fim de tudo, não é devidamente explorada. O filme começa com uma nébula cobrindo os valores que envolvem um Jedi e um Sith, mas acaba com isso muito bem evidente e esclarecido. A impressão que fica, de fato, é que há certo receio das mentes criativas por trás do filme de utilizar como base para o cânone elementos do antigo universo expandido.

Star Wars: Os Últimos Jedi é, sim, um filme ousado, divertido, surpreendente e lindo visualmente, mas fica mais marcado por ser um filme com potencial desperdiçado, com uma trama recheada de interesses imediatos e que evidencia a falta de um plano maior para a saga. É um filme que subverte as expectativas do espectador, tanto para o bem quanto para o mal. O oitavo episódio da saga tenta se distinguir de todos os seus antecessores por conta de sua originalidade e ousadia, mas acaba se destacando por adulterar a personalidade de personagens queridos e por forçar uma passagem de bastão bem-vinda, porém brusca. Sem dúvida alguma, é o início de uma nova fase na franquia, só resta saber se realmente vale a pena ir por esse caminho.

Nota: 3/5

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