Crítica | Girlboss – 1ª Temporada

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Se você tem 18 anos ou mais passou recentemente pelo choque de transição da vida adulta. Sim, acabou o ensino médio! “E agora? Que faculdade fazer? Tenho que arrumar um emprego!”. Vai morar só. Tem contas pra pagar. Os velhos dilemas da vida adulta mas com toda a carga de mudanças que a virada do Milênio trouxe. Exatamente: millennials, essa série é pra vocês!

Girlboss é uma adaptação livre (como a série faz questão de lembrar ao início de cada episódio) do homônimo livro autobiográfico de Sophia Amoruso. A produção acompanha a vida de Sophia, uma jovem que, com muita ousadia, largou seu emprego e decidiu investir em um negócio na internet. Apesar da trama por vezes se estabelecer com o que parece ser uma nova sitcom, a carga dramática das lutas e conflitos da protagonista não deixa tão clara a linha narrativa. Mais uma obra original Netflix, Girlboss tem em seu time além da autora (a Sophia da vida real), a aclamada atriz Charlize Theron.

Sophia, interpretada por Britt Robertson (Tomorrowland), é uma jovem destemida e corajosa, afinal de contas estamos falando de “a woman in a men’s world“, sem medo de errar e que gosta de pensar fora da caixa, vendo na internet a chance de transformar aquilo que gosta em seu novo ganha pão. Porém, o ano é 2006, onde a internet era terra pouco explorada, sem Youtubers e digital influencers de sucesso.

Uma das melhores características da série é justamente a identificação permitida logo de cara com os jovens adultos. Os roteiristas deixaram bem claro não ter receio algum de usar toneladas de referências dos anos 2000, como, por exemplo, Annie, melhor amiga de Sophia, quando diz que vai “ajudar Britney Spears depois do episódio do guarda-chuva”, a morte de Marissa em The OC (a essa altura não é mais spoiler) como “o evento televisivo mais importante de uma geração” e, pra quem passou a adolescência vidrado na MTV, um brinde: uma trilha sonora repleta de hits das bandas Yeah Yeah Yeahs, Bikini Kill, Silversun Pickups, e outras. Ainda sobre a “fórmula da identificação”, a própria personalidade da Sophia é o reflexo dessa geração, especialmente ao retratar as atitudes inconsequentes e egocêntricas da protagonista, fazendo com que lembremos das diversas vezes que já agimos assim.

Se já brindamos a trilha sonora, o figurino é outro fator que não fica nem um pouco por baixo, afinal, essa é a temática central da série. Uma coisa muito interessante é que, sim, já podemos olhar pra 2005 e perceber mudanças na moda. A coisa as vezes é tão drástica que caberia aquele momento “a gente se vestia assim mesmo?”. Independente disso, impossível não amar a construção da pegada vintage de Amoruso, a grande diferença de sua loja e-commerce Nasty Gal. Ponto para Audrey Fisher, figurinista de Girlboss.

Porém como nem tudo são flores, a série peca na divisão entre a comédia e drama. Os primeiros episódios são contagiantes e nos conduzem a torcer por Sophia, ainda que em meio a algumas atitudes reprováveis, porém, ao surgir os problemas, o enredo não apresenta fluidez, faltando tempo para desenvolver as problemáticas, e acabando por apresentar soluções por vezes bastante infantis. Talvez esse problema no roteiro seja resultado do ritmo frenético da série em busca de mostrar fatos que aconteceram ao longo de dois anos na vida da personagem em apenas 30 minutos. Ritmo esse que também é um símbolo da nossa geração. Esse acaba sendo um erro bem complexo de condução, pois torna os episódios aparentemente independentes, apesar dos cliffhangers bem pensados estimularem a maratona.

Voltando as boas noticias, o elenco é totalmente harmonioso, com Ellie Reed interpretando a Annie, melhor amiga de Sophia e Johnny Simmons interpretando Shane, namorado da protagonista que, ao passo que incentiva a namorada, também corre atrás de seus objetivos. Além deles, vale também o destaque para Dean Norris (Breaking Bad), melhor representação dos pais da nossa geração, Melanie Lynskey (Two and a Half Men), como a principal inimiga de Sophia e, por fim, mas não menos importante, RuPaul Charles, esbanjando simpatia como Lionel, vizinho da Girlboss.

Entre altos e baixos, Girlboss é um grito para nossa geração otimista, uma voz que lembra que empreender pode sim dar errado, mas também pode dar muito certo e que a fórmula para o sucesso é correr (muito) atrás dos seus objetivos. É bem verdade que a série não é a fórmula perfeitinha que vemos nas palestras de coaching da internet, mas é bem convincente ao passar a mensagem de que, quando tudo der errado, você vai precisar se reinventar.

Parabéns mais uma vez a Netflix por emplacar outra série de comédia que, se depender de seus jargões (“eu te amo, caso eu morra”), chegou para ficar.

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