Crítica | Moonlight: sob a luz do luar

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Um garoto, três nomes, três identidades. Moonlight é um poema em forma de filme. Com um roteiro simples, mas rebuscado, um excelente elenco e uma fotografia de encher os olhos, o filme mostra logo em suas primeiras cenas o porquê foi indicado para concorrer a categoria mais importante do Oscar.

A produção conta três fases da vida de Chiro, um americano negro da periferia de Miami. De garoto perdido à gângster renomado, o protagonista nos leva a refletir sob diversos aspectos da vida em sociedade, especialmente sobre suas mazelas.Perseguido pelos colegas quando criança e tentando entender os problemas de sua mãe com as drogas, Little (apelido depreciativo colocado pelos outros garotos da escola) precisou aprender desde cedo que é difícil compreender quem você é. E mais difícil ainda fazer com que os outros o respeitem.

Com diálogos sucintos e profundos, os encontros de Chiro com os demais personagens são sempre complexos, suscitando a sensação de que há sempre muito mais por trás das poucas palavras trocadas nas cenas. A atuação de todo o elenco, em especial de Alex R. Hibbert, dispensa comentários e é capaz de rapidamente deixar marejados até os olhos dos mais fortes. São cenas que passam longe dos clichês a que estamos habituados e abordam temas polêmicos com tanta sobriedade que repetidamente fazem com que questionemos até mesmo os princípios mais básicos da humanidade, como o do respeito à identidade alheia.

Um outro ponto de destaque do filme é a sutileza com que a narrativa retrata os principais focos do enredo, passando longe da vitimização de Chiro, mas ao mesmo tempo sem romantizar em nada os acontecimentos. Em Moonlight somos apresentados ao cru relato das dores da vida, da esperança e do amor, tudo com a delicadeza de um soneto e com a força de um soco na boca do estômago.

É bem verdade que o filme perde um pouco do ritmo do meio para o final, mas nada capaz de tirar a beleza da história.

De um ponto de vista mais técnico, Moonlight também apresenta uma produção de peso. Uma boa trilha sonora acompanha belos planos, câmeras bem posicionadas e cenas muito bem editadas, tudo sob a excelente regência de Barry Jenkins, que mostrou verdadeira maestria na finalização do filme.

Em resumo, Moonlight é um filme que sem dúvida alguma merece estar no páreo para melhor filme no Oscar. Apesar dos concorrentes de peso, poucos de seus adversários conseguem imprimir uma mensagem tão profunda e bonita na alma daqueles que prestigiam os filmes. Se há algo pelo que sou grato, independente do resultado, é que sua indicação abriu caminhos para que pessoas de todo o mundo pudessem ser tocadas e despertadas pela linda mensagem de Chiro. Uma obra que vale cada minuto sentado em frente à tela.

Curiosidades

– No filme, Juan ensina Little a nadar. Mas antes do início das filmagens, o jovem realmente não sabia nadar. Então, Mahershala Ali realmente ensinou Alex R. Hibbert a nadar.

– Naomie Harris teve que filmar todas as suas partes em apenas três dias. As cenas se passam durante 15 anos da vida da personagem e foram filmadas em sequência.

– Barry Jenkins disse em uma entrevista que os três atores que interpretam Chiron não se conheceram durante a produção. A ideia era que cada um interpretasse seu personagem sem serem influenciados pelas atuações dos outros. A mesma técnica foi utilizada com os atores que interpretaram Kevin.

– Baseado na peça de teatro In Moonlight Black Boys Look Blue, escrita e dirigida por Barry Jenkins.

– Filmado durante 25 dias, de outubro a novembro de 2015, no sul da Flórida.

– As restrições orçamentárias foram tão grandes que o elenco teve de compartilhar um trailer de traje, cabelo e maquiagem, além de uma sala de descanso com toda a equipe.

– A princípio, Naomie Harris estava muito relutante em interpretar uma viciada em crack. No entanto, quando Barry Jenkins confidenciou a ela que seu personagem era baseado na própria mãe do diretor – que era viciada em crack -, Naomie concordou em assumir o papel. Para viver sua personagem, ela passou um mês pesquisando a vida de viciados em drogas e viu vários vídeos de viciados em crack na internet.

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