Crítica |La La Land – Cantando Estações

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Centenas de carros engarrafados e buzinas ecoando na rodovia Century Freeway, em Los Angeles. Cada um ao som de sua trilha favorita para enfrentar o trânsito e tirar o stress das buzinadas infindas. Quando de repente ao som de Another Day of Sun todo aquele trânsito explode em um número musical, e como num jazz onde cada um toca o que quer, todos os ritmos se misturam ali e chamam ao espectador para o que há de vir.

A essa altura do campeonato você já deve ter escutado falar de La La Land em algum lugar. O musical reinou na premiação do Globo de Ouro deste ano levando sete estatuetas.

O filme acompanha a história de Mia (Emma Stone), uma atriz iniciante que trabalha como barista em uma cafeteria dos estúdios Warner e tenta incontáveis vezes adentrar na indústria do entretenimento e Sebastian (Ryan Gosling), um pianista de Jazz que sonha em abrir o seu próprio clube de Jazz. Na tentativa de cada um de perseguir seus sonhos, as histórias se cruzam e agora eles precisam tentar fazer esse relacionamento dar certo enquanto batalham pela fama e sucesso.

La La Land é na verdade uma grande homenagem a Los Angeles, conhecida como a “Cidade dos Sonhos”, destino de muitos que almejam deslanchar carreiras no cinema, na música ou na moda. No filme vemos que, mesmo com tantos contrapontos à vida real, muito pode acontecer em apenas quatro estações.

Emma Stone, sem dúvidas uma das novas atrizes de Hollywood que mais tem evoluído, desenvolve magistralmente seu personagem, dando um verdadeiro show frente a cada desafio colocado diante de Mia. Os constantes testes de elenco e as decepções de cada um deles evidenciam o mote principal da produção: nem sempre é fácil alcançar seus sonhos.

Já Sebastian vive a difícil escolha de seguir seus objetivos e fundar um clube de jazz em uma época em que o gênero não é mais tão forte, ou se vender ao mercado, tocando os hits do momento apenas pelo retorno financeiro. Esse dilema ganha destaque quando Damien Chazelle (Whiplash – Em Busca da Perfeição), roteirista e diretor de um filme, ousa fazer um musical em épocas de escassez do gênero. “Há quem diga que não se faz mais musicais como antigamente”, dizem. “Não é por falta de quem faça”, responde Chazelle.

É importante ressaltar que já é de conhecimento público que Emma e Ryan tem uma refinada sintonia de atuação, já provada e aprovada no fantástico filme Amor a Toda Prova (2011), mas ainda assim os sapateados e duetos à beira do piano em La La Land  são de deixar qualquer um bobo com tamanha harmonia. Dois fatos chamam ainda mais atenção sobre a performance da dupla: a atriz fez apenas três meses de aula de canto e sapateado para o filme e Ryan em momento algum usou dublê de mãos, ou seja, ele mesmo é que toca o piano nos números musicais.

E, se estamos falando de um musical, é óbvio que o público é sutilmente embalado ao gênero durante toda a produção, de maneira que a narrativa inteira parece um convite ao que estar por vir, como em um espetáculo teatral, onde o roteirista conduz cada evento de maneira maestral rumo ao Grand Finale. Se começamos com Another Day of Sun, apresentado nas alturas logo nos primeiros minutos (como que representando um choque proposital para que o público entenda que o filme é, em sua essência, um musical) e seguirmos em direção ao ápice, embalado ao som de City of Stars, podemos perceber como o enredo é construído de maneira cativante e como cada apresentação colabora na construção da narrativa. Stone e Gosling não são os melhores cantores, de fato, mas a equipe do filme foi bem generosa, baixando os tons para que os números musicais convencessem a plateia.

Por fim, e não menos importante (NÃO MESMO), a fotografia é uma das partes mais lindas de La La Land. O filme é dividido em estações (o que justifica o nome em Português “Cantando Estações) e é possível perceber que a cada uma delas temos uma nova paleta de cores que refletem os eventos que daquela estação, seja nas músicas ou acontecimentos que cercam a trama. A iluminação também parece ter vida própria e por vezes escolher sozinha quem quer iluminar e destacar nesse espetáculo de sonhos.

La La Land prova que os musicais não morreram e que, se o gênero teve seus dias de glória com Gene Kelly e Debby Reinolds ou Julie Andrews e Christopher Plummer, hoje pode ser ressuscitado e restaurado, agradando até mesmo quem não é tão fã assim do gênero.

E para quem quiser continuar a vivenciar a magia de La La Land após a saída do cinema, a trilha sonora está disponível em playlist no Spotify (https://open.spotify.com/album/5p0H50uFCdWTpLY640HoPc).

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