Crítica | Vice

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A filmografia de Adam McKay tem nos agraciado com longas diversos, desde filmes de super-heróis (ele escreveu parte do roteiro de ‘Homem-Formiga’) até comédias nonsense, no entanto, os seus melhores trabalhos surgem da tentativa de desenvolver críticas construtivas sobre a política americana e o “american way of life”, empregadas em longas como ‘A Grande Aposta’ e agora em ‘Vice’ que, de longe, é seu melhor trabalho na direção, exatamente por se mostrar um realizador maduro, seguro de suas escolhas artísticas e que encontrou o equilíbrio entre o humor e a alfinetada.

‘Vice’ tinha tudo para seguir o cansativo modelo de filme biográfico sobre políticos dos EUA, semelhante ao enjoado ‘O Favorito’, porém, a narração em off e o humor ácido contribuem para que o filme seja mais interessante e atrativo, principalmente ao público que não está familiarizado com a história, já que sua abordagem é bem mastigada e o roteiro autoexplicativo. Um acerto que veio da mente criativa e divertida do diretor e que torna a jornada mais espirituosa e menos extensa, ao retratar a vida do controverso Dick Cheney (Christian Bale), um dos mais influentes e polêmicos vice-presidentes da história.

Falando em roteiro, o texto é dinâmico e bem simples, mesmo quando tenta aprofundar termos políticos e estratégias, porém, ao meu ver, erra ao tentar transformar Cheney em um herói nacional, sendo que suas ações influenciaram guerras e suas palavras já machucaram muitas minorias. A forma como o personagem é tratado varia entre o irônico e o salvador indispensável, a sensação final é agridoce e definitivamente ainda vai render algumas polêmicas para o filme. Já a parte técnica é impecável, desde a escolha da direção por cortes rápidos, que dão um ritmo mais dinâmico a trama com a ajuda da montagem, até a direção de arte e fotografia, que remetem completamente a vibe de época. Tudo funciona perfeitamente dentro da narrativa onipresente e sarcástica de McKay, e ainda sobra espaço para estilosas quebras da 4ª parede, quando o narrador (vivido por Jesse Plemons) interage com o espectador.

E claro, para carregar uma trama tão controversa, ninguém melhor que Christian Bale (Batman: O Cavaleiro das Trevas), irreconhecível no papel do protagonista. De fato, seu trabalho é excepcional e expressa por completo o desejo cômico e maligno do projeto, se mostrando um dos mais talentosos e versáteis atores da atualidade. Amy Adams (A Chegada) não fica para trás, mesmo que seu papel seja secundário, a atriz arranca suspiros sempre que entra em cena, entregando uma mulher forte, controversa e que acredita plenamente no que está lutando. Já Steve Carell (Querido Menino), está hilário como de costume, mesmo ficando para ele as piores piadas do roteiro, uma pena.

Curiosamente, durante a temporada de premiações, Christian Bale agradeceu ao diabo por ter sido inspiração para o papel de Dick Cheney, de fato, ‘Vice’ consegue mesclar de forma interessante o humor ácido com o drama sombrio, ao entregar um filme controverso e ao mesmo tempo hilário, que poderia ter sido extremamente pesado se fosse abordado de outra maneira. Se a existência da biografia se justifica, aí vai depender de como o público vai lidar com assuntos tão perigosos sendo tratados de maneira alegre e irônica, por um diretor que está encontrando seu caminho após se perder inúmeras vezes em comédias sem graça e dramas sem conteúdo. ‘Vice’ é perverso, sim, mas é oportuno e merece sua atenção.

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