Crítica | Tidelands – 1° temporada

Array
Publicidade

A primeira série australiana da Netflix se aproveita de suas paisagens naturais para criar uma trama de mistério envolvendo seres “peculiares” de uma pequena aldeia de pescadores. Mas Tidelands se provou capaz de trazer também uma narrativa de crime com tráfico de drogas, com muitas cenas de ação e tensões sexuais. O mais surpreendente é o quanto a produção consegue ser fraco e desagradável em absolutamente todos esses pontos.

História

A trama se inicia em duas pontas de um cordão que acabam se encontrando. O primeiro lado mostra um pescador curioso demais em busca de respostas, que acaba assassinado pelos tidelanders (seres da terra da maré, em tradução livre). O crime acaba expondo o delicado esquema de tráfico de drogas do lugar, chefiado por Augie Mcteer (Aaron Jakubenko). A irmã de Augie, Cal Mcteer (Charlotte Best), vem pelo outro lado da trama, quando sai de um confinamento de dez anos após colocar fogo na casa de um policial. A personagem retorna para a aldeia em busca de respostas e da herança do pai.

Temos ainda, claro, a história dos próprios tidelanders, liderados pela sensual e cruel Adrielle Cuthbert (Elsa Pataky). Ela é a responsável por fornecer a droga para Augie, mas não é muito fã de revelar seus planos para o restante do seu povo. Isso acaba gerando desconfiança em alguns, em especial em Violca (Madeleine Madden), que busca a todo custo descobrir o que a líder está tramando e qual o rumo que a grande quantidade de dinheiro vinda do tráfico está tomando.

Tidelanders

O próprio nome já é uma revelação do que se tratam os personagens, mas o marketing da série faz questão de deixar claros que eles são uma reimaginação das sereias. Híbridos – metade humanos, metade aquáticos -, os seres têm alguns poderes especiais, como respirar submersos, controlar a água e queimar objetos utilizando as próprias mãos.

Contudo, talvez a melhor decisão fosse não revelar tão de cara sobre os personagens, afinal, trata-se de uma história de mistério. Especialmente quando descobrimos (não é spoiler, acontece no primeiro episódio e acaba virando uma das tramas principais) que Cal é uma tidelander. Essa descoberta não é bem explorada, resumindo-se apenas a algumas (repetitivas) cenas dela tentando respirar embaixo d’água na banheira.

O próprio lugar dos tidelanders, L’Attente, é pobre de exploração. Vemos que eles têm todo um esquema para levar a droga em um barco pequeno e se encontrar com Augie no meio do nada. Aí na cena seguinte, Augie chega em L’Attente sem a menor dificuldade, como se fossem vizinhos. Sem falar na fabricação da droga, que simplesmente brota do chão em barris prontos para o transporte.

Além disso, é perceptível o quanto o valor de produção de “Tidelanders” é baixo. Os poucos respiros de qualidade cinematográfica, como os planos abertos mostrando as belezas das paisagens naturais do lugar, são totalmente esquecidos à medida que a trama avança.

Mistério

Ok, tudo isso não ser explicado nos primeiros episódios é justo por se tratar de uma trama de mistério, certo? Errado. Ao invés de desenvolver os ambientes e focar em uma ou duas subtramas interessantes, a série opta por incluir ainda mais histórias, deixando o espectador disperso e sem conseguir criar nenhuma tensão pelo que está por vir. Como é possível ficar apreensivo se existem um milhão de coisas acontecendo ao mesmo tempo?

Adrielle está numa busca por algumas pedras marcadas com escritos antigos, e essa trama aparece em míseras três cenas nos primeiros três episódios. Porém, ela acaba retornando magicamente na metade final, transformando-se na narrativa principal da série e não causando praticamente nenhum sentimento de interesse no espectador; a investigação da morte do pai de Cal ganha importância repentinamente e, no final, não leva a lugar nenhum. Fica claro que a única motivação para isso acontecer é a inserção de uma trama que possa ser aproveitada em futuras temporadas; Violca obriga o jovem Gilles (Finn Little) a espionar a líder dos tidelanders, e ele acaba perdendo um olho com isso, por preferir passar informações para o conselheiro Lamar (Dalip Sondhi) do que revelar o que viu. E o personagem simplesmente some por vários episódios! Coisas como essa podem ser corrigidas, mas timing é uma coisa importante. E se uma série de oito episódios de, aproximadamente, 40 minutos cada não souber usar o tempo que tem para impor um ritmo bom, é um péssimo sinal.

Conclusão

O marketing da série aparentemente foi muito valioso para “Tidelanders”, pois foi eficiente em vender um produto de qualidade bastante questionável. É certo que o Brasil acabou sendo mais afetado pela publicidade da Netflix devido à presença do ator brasileiro Marco Pigossi no elenco – um dos principais tidelanders. Mas a verdade é que a obra não consegue imprimir o clima de mistério a que se propõe, muito menos nos fazer ficar curiosos sobre o que virá pela frente.

Tudo isso culmina em um season finale que beira o patético, mostrando claramente que os roteiristas não tinham ideia do que fazer com a enxurrada de plots apresentados e precisavam (tentar) dar um jeito de arrumar a casa. O gancho para uma próxima temporada é evidente (com direito a um dos piores CGIs já vistos). Se a série decidir focar menos em subtramas e mais em usar o tempo que tem para criar uma atmosfera de suspense necessária para prender o espectador, talvez ainda haja esperança. Mas seguir o mesmo modelo apresentado nesta primeira temporada é uma receita para o fracasso.

Última Notícia

Mais recentes

Publicidade

Você também pode gostar: