Crítica | O Mecanismo – 1° Temporada

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“Este programa é uma obra de ficção inspirada livremente em eventos reais. Personagens, situações e outros elementos foram adaptados para efeito dramático.” Entendido isso pode dar o play na série.

Baseada no livro Lava Jato – O Juíz Sergio Moro e os Bastidores da Operação que abalou o Brasil, escrito por Vladimir Netto, O Mecanismo, adapta de forma livre os bastidores da Operação que trouxe à luz o maior esquema de corrupção do Brasil: A Operação Lava Jato. A série acompanha Marco Ruffo (Selton Mello), delegado aposentado da Polícia Federal que inicia uma investigação contra o doleiro Roberto Ibrahim (Enrique Diaz). Anos depois, a pupila de Ruffo, Verena Cardoni (Carol Abras) descobre que o “câncer” da corrupção em que Ibrahim estava metido era mais profundo.

Claramente, O Mecanismo não terá no público internacional o mesmo efeito que no público brasileiro. Por mais que não utilizem os mesmos nomes é possível identificar a quem a série está se referindo. A presidente se chama Janete, Ibrahim é a figura do doleiro Youssef, a Petrobrás aqui se torna Petrobrasil, a Revista Veja é transformada em Leia, a Oderbretch agora é Miller & Bretch e a Polícia aqui é chamada Federativa. Todos esses “easter-eggs” serão facilmente identificados pelo público nacional.

José Padilha já é conhecido por retratar fatos políticos e jogar as claras, e uma coisa que aprendemos com suas obras anteriores é que elas não são documentais. Ele pega um texto real e o transforma em algo ficcional, ainda que na obra tenhamos lampejos da realidade. Foi assim em Tropa de Elite, Ônibus 174, Narcos e agora é assim em O Mecanismo. Portanto, é de suma importância de que o espectador não encare a série como retrato da realidade. Sim, a Lava Jato aconteceu, mas não foi bem assim.

Créditos: Netflix

Uma outra característica típica das obras de Padilha se repete aqui: a narração em off. A série inteira é narrada pelos dois protagonistas vividos por Selton Mello e Carol Abras. Porém, em alguns momentos essa escolha parece confusa, pois ora eles falam diretamente ao público com frases de efeitos, ora complementam a história numa escolha de direção de preferir falar e acelerar a história do que mostrar em cena. Padilha e Elena Soarez tomam decisões ousadas em certos pontos do roteiro (como no episódio 2), mas deixa furos em vários outros momentos da série.

Apesar da inconsistência no roteiro, cheio de frases e efeitos e diálogos pouco elaborados, as atuações de Selton Mello, Carol Abras e Enrique Diaz conseguem segurar a série. Ruffo é um fanático por seu trabalho, com transtorno bipolar, e que se dedica a investigação a ponto de abrir lacunas gigantes em seu relacionamento familiar. A delegada Verena vivida por Carol Abras, é forte, corajosa e se impõe. Carrega com ela muito do seu mentor, porém, tem pontos próprios da sua personalidade. O roteiro erra ao colocá-la em um relacionamento inconsistente que pouco contribui para a trama ou para a vida da personagem em si. Enrique Diaz traz muito carisma e cara de pau ao doleiro Ibrahim. É interessante a opção de colocá-lo como colega de infância de Ruffo, ao tempo que mostra como ele sempre foi o impune. Um ponto que se sente falta e pode ser mais abordado numa possível segunda temporada é a participação do povo neste processo, como o que vimos nos protestos de 2013. Outra lacuna que fica aberta é a figura do Juiz Riggo (figura de Sérgio Moro), que na vida real tem um papel importante na Operação, mas na trama se detém apenas a encarar a Lava Jato como uma chance de promoção.

Créditos: Netflix

A série não serve para entender a Operação Lava Jato na íntegra, (mais uma vez friso) é apenas inspirada.  Nela temos personagens criados, frases que foram citadas na realidade, porém por outras pessoas, e tantos outros fatores que fazem parte de “uma obra de ficção inspirada livremente em eventos reais”. Quer saber mais sobre a Operação Lava Jato? Pesquise e leia mais sobre o assunto.

É difícil permanecer isenta quando se trata de política, mas, a série consegue criar um organograma que mostra que todos estão envolvidos no Mecanismo de Corrupção Brasileira. Seja à esquerda que está no poder, ou a direita que espera o escândalo abalar a presidência para se aproveitar da ocasião, ainda que também estejam envolvidos. O Mecanismo traz as claras que a corrupção também está presente nas pequenas atitudes do “jeitinho brasileiro” e que o esquema dos Grandes detentores do poder, como um câncer em metástase, se alastra em interfere em todos os níveis da sociedade brasileira.

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