A FORÇA no episódio VII de Star Wars

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A FORÇA “é um campo de energia criado por todas os seres vivos, ela nos envolve e penetra. É o que mantém a galáxia unida”. Essa frase, dita pelo mestre Obi Wan Kenobi, congrega tudo do universo Star Wars, é o guia que devemos seguir, mesmo que outros pontos pareçam ser mais relevantes, é a FORÇA que constrói a linha narrativa, quando atua nas ações das personagens. O Despertar da Força, ep. VII, é trabalhado em torno do tema proposto pelo título, e, desse modo, alcança êxito. A FORÇA desperta, ou seja, é sentida em sua intensidade por aqueles que a conhecem.

A primeira afirmação sobre a FORÇA que pode ser dita, a partir do ep. VII, é que ela atua em tempos específicos com maior intensidade. Trinta anos, aproximadamente, passaram-se, desde a morte do Lord Vader e Palpatine. A Resistência, liderada pela General Leia, sofre terríveis ataques da Primeira Ordem, uma frente militar que almeja acabar com a República para instaurar um novo Império, principalmente após o desaparecimento de Luke Skywalker, último mestre Jedi. A Primeira Ordem, liderada pelo conhecedor do lado sombrio da FORÇA, e pupilo do Líder Supremo Snoke, Kylo Ren e pelo General Hux, precisa descobrir sobre o paradeiro de Luke e eliminá-lo, pois, o mestre Jedi representa uma grande ameaça aos planos de Snoke.

O cenário é de conflito acirrado, de iminente perigo contra a República e os ideais democráticos. Porém, um Stormtrooper se rebela contra a Primeira Ordem e, num encadeamento de ações em torno de sua fuga, a narrativa apresenta uma conjunção de acontecimentos que remetem a um destino traçado, a um chamado em torno da protagonista: a sucateira e moradora de Jakku, Rey. Numa sequência de imagens, sem diálogos, narrador off ou legendas, a personagem é apresentada para nós, ao nos depararmos com um dia de trabalho dela. É possível extrair dessa belíssima introdução que se trata de uma pessoa à espera de alguém (sua família), cuja vida resume-se na sobrevivência, daí aprender a manejar o bastão, como instrumento de batalha e criar uma aptidão com a tecnologia. Essas habilidades surgem de uma necessidade de se manter sã e viva, enfim, da necessidade de enfrentar os perigos da solidão. Seu ofício consiste, como já dito, em procurar sucatas para trocar em alimento. Não seria exagero afirmar que seu veículo foi construído por ela, pois aparenta ser uma colcha de retalhos, e, quando comparamos a seu bastão, sua casa, seus pertences, fica claro sua habilidade em consertar, reutilizar aquilo que não tinha serventia. Em suma, somos apresentados a uma personagem que é treinada pela vida, uma sobrevivente dos infortúnios que a solidão pode proporcionar.

É a partir do instinto de sobrevivência que se começa a perceber a atuação da FORÇA para que tudo se encaixe. Rey é o ponto de convergência de todos os acontecimentos. Quando Kylo Ren captura Poe Dameron, BB-8, seu droid, o qual possuía informações preciosas sobre a localização de Luke, consegue escapar. Em analogia com o ep. IV, o droid foi utilizado pela FORÇA como veículo de informação, guardião das boas novas. Finn, rebela-se e foge da Primeira Ordem, libertando o piloto mais habilidoso da Resistência. A dupla insere-se numa aventura em busca de BB-8 e, depois de serem atingidos, caem em Jakku, planeta em que Rey está, inclusive em posse do droid. O encontro de Finn e Rey, inicialmente não amistoso, termina por embarcá-los numa fuga da Primeira Ordem (a qual busca a todo custo capturar o droid), utilizando a Millennium Falcon. É claro que Han Solo, fiel a sua nave, a procuraria, e dessa forma, há o encontro de Chewie e Solo com Rey e Finn; da primeira geração de heróis com a geração a ser construída; do ep. VI com o ep. VII; da tradição com o novo. Sem dúvida uma demonstração do poder da FORÇA em tempos de acirramento bélico. A FORÇA, minuciosamente, atuou para que um conjunto de ações convergisse no encontro de Rey com o sabre de luz (outrora de Luke Skywalker), guardado por Maz Kanata. É nesse ponto da narrativa que o destino se fecha e o chamado à aventura se apresenta à Rey que, claro, como toda jornada do herói, já explicada com detalhes pelo professor Joseph Campbell, começa com a negação do chamado.

Seguindo o mesmo escopo do ep. IV, a FORÇA mais uma vez atua em minúcias e indica para um caminho. A ideia de destino se alia muito ao curso que a FORÇA promove à campanha dos nossos heróis. Não é que a FORÇA priva o livre-arbítrio, na verdade, o poder de escolhas não é maculado, mas é fato que existe um sentido de ser, o qual o herói irá encarar, aos moldes da concepção de destino, na literatura grega clássica (se for coerente a indagação, Rey carrega em sua genos uma linhagem de importantes personagens). A partir desse ponto fica claro o despertar da FORÇA, o que por consequência, indica ao expectador a trajetória da trama que se costura em direção ao encontro de Luke.

Dessa forma, duas críticas feitas ao filme podem ser respondidas. A primeira é que o ep. VII é um ctrl.C/ctrl.V do ep.IV. O ep. VII nos revela o agir da FORÇA, depois de 30 anos, como uma forma espiralada de pensar o tempo. Nesse ponto específico da história, a FORÇA surge orientando os acontecimentos para convergi-los no chamado de Rey. O tempo em relação ao agir da FORÇA não se apresenta como cíclico, há elementos adicionais que tocam o mesmo ponto de tempos atrás, mas que apontam para um avanço, ou seja, não se volta ao mesmo tempo, trabalha-se como um espiral que carrega a história, olhando para frente. Há uma residualidade histórica (acontecimentos passados que encadeiam consequências relevantes à trama) que avança a narrativa, numa dinâmica de aproximação e distanciamento com a trilogia clássica. Em suma, seguir o mesmo escopo do ep. IV é indicar um espelhamento do agir da FORÇA, a partir de uma relação forma/conteúdo, como nota de esclarecimento quanto a uma concepção de destino que há de se cumprir, num tempo específico, cujos resíduos do tempo passado atuam na modificação do presente, apontando um avanço progressivo da narrativa, considerando o todo do universo Star Wars.

A outra crítica é como Rey tornou-se tão habilidosa e conectada com a FORÇA tão rápido. Como já foi desenvolvido antes, Rey conhecia histórias de Guerras, de tempos anteriores, conhecia histórias ligadas aos Jedi, conhecia histórias que remetem aos Rebeldes e da batalha de Yavin, ou seja, o mito (narrativa simbólica) criado em torno dos acontecimentos passados, relativos aos Jedi e à luta contra o Império, fazia parte do imaginário de Rey, no entanto, esses relatos são confirmados como verdadeiros na conversa com Han Solo. Com a confirmação e o despertar da FORÇA, Rey cursa a sua jornada num processo de autoconhecimento, principalmente em relação à FORÇA. Isso repercute tão forte nela, que ela começa a entendê-la, sentindo a FORÇA (mais uma lição de Bem Kenobi “Sinta a FORÇA”, para Luke no ep. IV, quando destrói a Estrela da Morte, afirmando o que falo sobre os resíduos do passado que repercutem no presente). Junto a isso, tudo o que já foi dito quanto às suas habilidades desenvolvidas pela necessidade imposta pela vida, como a habilidade de luta com bastão, o qual era sua defesa contra os inimigos. Outra habilidade clara era sua facilidade de lidar com as tecnologias (pilotar, por exemplo, a Millennium Falcon), o que usava como trabalho. Agora, imagina essas habilidades potencializadas ao longo de sua jornada quando ela compreendeu o seu chamado e como a FORÇA é forte nela?

Por: Rodrigo Malheiros

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